por Daniel Carvalho e Mariana Carneiro
Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) afirma que o governo de Jair Bolsonaro terá que se deslocar para o centro, a exemplo do que ocorreu no passado com o ex-presidente Lula e o PT, para conseguir governar.
Bezerra rejeita o bordão da "nova política" e afirma que Bolsonaro, ao contrário do que dizem seus críticos, têm dado atenção a parlamentares, seguindo a tradição de dividir espaço com aliados.
Sua leitura é que a semana se encerra melhor do que começou para o governo. Embora reconheça que o presidente tenha a sua personalidade "e ninguém vai mudar", ele diz que Bolsonaro está começando a compreender que é dele a responsabilidade de formar maioria no Congresso.
Pergunta - Falta articulação ao governo?
Coelho - O ministro Onyx [Lorenzoni, Casa Civil], em conversa com os líderes na quarta-feira [27], disse que o governo tinha humildade de reconhecer que perdeu a oportunidade de fazer na Câmara um encaminhamento mais harmônico e aproximado dos partidos e das lideranças. E que seu desejo, no Senado, era expressar que precisa do apoio do Legislativo para tocar as reformas.
Parlamentares reclamam que conversas anteriores não resultaram em nada.
Coelho - A eleição de Bolsonaro representa uma ruptura do ciclo político, pois atropelou os partidos do centro democrático. Todas as candidaturas que se colocaram pelo centro foram engolidas pela polarização entre o PT de Lula e, de outro lado, o antipetismo. Em fevereiro, o Congresso se instala renovado, mas são os partidos do centro democrático que têm as condições de dar a sustentação política para aprovar as reformas.
Ainda são?
Coelho - É só fazer a conta. Soma MDB, PSDB, PR, PSD, DEM, PP... Rodrigo Maia recebeu o apoio desses partidos porque significava recolocar o centro democrático, então varrido eleitoralmente, na cena política nacional. Temos um Congresso renovado mas que precisa mudar a cultura política. Antes, com os partidos empoderados, a cultura era a divisão ministerial, a entrega dos cargos e a divisão do poder. Bolsonaro rompeu com isso. As pessoas identificaram que a agenda de Bolsonaro, com a exceção dos costumes, está correta.
E por que ainda não há base?
Coelho - Porque as pessoas querem saber se o Bolsonaro quer ser parceiro político. O presidente que aprova uma agenda de reformas viabiliza um projeto de poder político pelos próximos 8, 12 anos. Ou não foi assim com o PT?
Mas ele parece dar sinais de que não quer ser parceiro dos políticos.
Coelho - Calma, ele está numa transição que começou em 1º de fevereiro. Está há 40 dias na ativa e querendo formar a base. Na cabeça dele, o toma lá dá cá são as confusões que ocorreram pelos desvios no passado. Ele generaliza e provoca irritação dentro do Congresso.
Ficou refém do discurso eleitoral?
Coelho - Ele está evoluindo no sentido de, sem abandonar os compromissos de campanha, criar e definir critérios que permitam a convivência com o Congresso e a construção da base.
Isso é a nova política?
Coelho - Nova e velha política eram definições para a campanha. Agora é governar, e não se trata de nova ou velha política, mas da boa política. O que a classe política quer, independente do que se fala em emenda e cargo, é saber se ele vai se associar aos partidos. Por exemplo, um deputado, uma liderança política que tenha a aspiração de ser prefeito da capital do seu estado, ele terá apoio do Bolsonaro? É isso que ele precisa compreender para definir as alianças que serão formadas daqui para frente. Não são os cargos que vão fazer a mágica. A mágica será feita quando as pessoas confiarem que ele quer ser parceiro e que vai compartilhar o sucesso de seu governo.
Acha que bastaram os acenos que Bolsonaro fez a Maia no fim da semana?
Coelho - Encerramos a semana superando os desencontros. Tanto o presidente quanto Maia estão virando a página. As feridas estão cicatrizadas? Claro que não.
Na reforma da Previdência, ele parece transferir a responsabilidade para o Congresso.
Coelho - Mas disse também que a reforma é importante para o Brasil, para a agenda dele. O presidente tem a personalidade dele e ninguém vai mudar. Você pode não gostar das ideias dele, da forma como ele fala, mas é uma pessoa simples. Está começando a compreender que a responsabilidade de formar maioria no Congresso é dele, do governo, nossa.
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