A entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à jornalista Mônica Bergamo, publicada na última quarta-feira, é fundamental para o desenlace da crise política brasileira, que vem arrastando a economia brasileira nos últimos três anos e tem como objetivo central impedir a sua volta ao poder. Nesse turbilhão, a presidente Dilma Rousseff foi deposta justamente quando a direita se deu conta de que o PT tinha tudo para consolidar um ciclo de vinte anos no poder, com o retorno de Lula em 2018. Por isso mesmo, é que se trata de um golpe continuado, que primeiro derrubou a rainha e agora se prepara para derrubar o rei no castelo de cartas petista.
Lula disse que, mesmo sendo alvo de uma brutal injustiça, não vai convocar reações radicais, sinalizou que irá respeitar o resultado da justiça eleitoral e também avisou que a sua posição pessoal é de que as eleições presidenciais de 2018 não devem ser boicotadas, mesmo que não possa concorrer. Ou seja: ainda que a eleição sem Lula não seja livre, e portanto uma fraude, Lula defende que o PT invista na fresta democrática que restou ao País e apresente um nome alternativo. Essa discussão no entanto, só deve ocorrer, quando estiver confirmada, em última instância, a impossibilidade de sua candidatura.
Com a entrevista, Lula deu uma aula de democracia a seus adversários, à direita e à esquerda, que no fundo torcem para que ele não concorra, porque esta é a única possibilidade de vitória que têm. Foi também uma lição para os carrascos do Poder Judiciário que hoje correm para criar uma "vítima desnecessária". Lula se mostra pronto para uma eventual prisão porque sabe que a agressão causará mais danos aos agressores do que a ele próprio. Por último, ele demonstrou maturidade diante de setores mais radicais da esquerda, que hoje pregam uma revolução, sem apontar que armas haveria para essa empreitada.
Nesse contexto, a tendência, no PT, é defender a candidatura Lula até o limite legal, mas já preparando também a escolha de um vice – ainda que seja um nome provisório. Os nomes mais citados têm sido os dos ex-prefeitos Fernando Haddad e Patrus Ananias, assim como do ex-chanceler Celso Amorim, uma vez que Jaques Wagner já levou seu "cartão vermelho". Se, no futuro, por alguma reviravolta judicial, Lula conseguir confirmar sua candidatura, este vice poderá vir a ser trocado, até numa composição com outros partidos do campo progressista.
Lula sabe que o Brasil de 2018 enfrenta até o risco de um novo golpe militar e, mais uma vez, provou ser um estadista num País dominado por oportunistas e farsantes. Em vez de apostar no caos e na radicalização, ele indica uma porta de saída e tenta apenas costurar uma fórmula que dê a ele a possibilidade de influir na reconquista de uma democracia plena e de um projeto de Brasil-nação.
Fonte: Brasil 247 - Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste
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