LEANDRO LOYOLA - "Manda trazer um lanchinho para a gente. O Nelsinho está cansado”, disse a presidente Dilma Rousseff a um auxiliar. Naquele momento, na noite de segunda-feira (31), estavam sentados com ela em uma mesa de reuniões no Palácio do Planalto o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, seu colega da Fazenda, Joaquim Levy, e os senadores líderes de partidos da base de apoio ao governo. O comportamento de Dilma acompanha, de forma inversa, sua popularidade: quanto mais impopular, mais amável ela se mostra. O tema da reunião era o projeto do Orçamento da União de 2016. Levy sentou de lado, para evitar olhar direto para Dilma e Barbosa. Sua cara não era das melhores. Barbosa fez uma explanação sobre a inovação de enviar ao Congresso um Orçamento que prevê a falta de cerca de R$ 30 bilhões para pagar as despesas. O lanchinho com sanduíche e suco foi servido. Levy acompanhou tudo de cara fechada e, discretamente, foi-se embora no meio da reunião. Ninguém teve coragem de dizer nada.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Caso raro de ministro com mais apoio fora do que dentro do governo (Foto: Andre Coelho/Agencia O Globo)
Na semana passada, o governo esteve perto de ver Levy ir-se embora não só de uma reunião, mas de Brasília. Reconhecido como a principal peça da sustentação econômica de um governo capenga, Levy está cansado de perder. Foi chamado para consertar as contas desarrumadas pela gastança do primeiro mandato de Dilma e evitar que o país regrida uma década. Defende, desde que assumiu o cargo, no ano passado, um ajuste agudo, com um forte e rápido corte de despesas. Sua receita é a mesma usada pelo governo FHC, em 1999, e por Lula, em 2003; ambos os casos mostram que, quando bem executados, apertos fiscais fortes e curtos recuperam a economia mais rápido. Mas Dilma tem se afastado das premissas de Levy para se aproximar das de Barbosa, mais alinhadas a suas crenças pessoais. Levy foi derrotado não só no Orçamento, mas também quando se colocou contra a recriação da CPMF, o anúncio antecipado da redução da meta de superavit primário deste ano e o pagamento de metade do 13º dos aposentados. Em todos os casos, Dilma preferiu saídas defendidas por Nelson Barbosa. Sua inabilidade política também não ajuda. Levy sabe que, a cada dia, está mais sozinho com suas ideias que exigem sacrifícios. Nesta semana, voltou ao centro das atenções depois do anúncio de que a agência Standard & Poor's rebaixou a nota do Brasil, que perde grau de investimento. http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/09/joaquim-levy-fica-mas-ate-quando-aguenta.html
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