Por Rogério Jordão
Depois da redução da maioridade penal, em breve deveremos ouvir falar da proposta de revisão do Estatuto do Desarmamento na Câmara Federal, a ser avançada pela chamada bancada da bala e que pretende, entre outros itens, flexibilizar a restrição ao porte de armas no Brasil. Vai significar, se aprovada a medida, mais armas nas mãos de civis, nos aproximando de certa forma do modelo vigente nos Estados Unidos onde o porte de armas é facilitado e mesmo estimulado, via a propaganda de armamentos e a atuação de um forte lobby da indústria de armas. Imagem: DaniVázques/Flickr/https://br.noticias.yahoo.com
Em tempos de ajuste fiscal, propostas como esta, da revisão do Estatuto do Desarmamento, tendem a ganhar fôlego na Câmara pois não mexem com o Orçamento, cujas torneiras estão fechadas, além de serem articuladas por bancadas numerosas. São temas de forte apelo popular e fácil disseminação nas redes sociais. Dizem respeito ao cotidiano das pessoas.
Nos Estados Unidos, há quem argumente que o cidadão armado é a garantia da democracia (em termos bastante abstratos, dá ao indivíduo o direito ou a possibilidade de, em última instância, se defender do próprio Governo, caso este se torne uma tirania, por exemplo). Será assim?
Morei em Nova Orleans, no sul dos EUA, por seis meses em 2014. Uma vez, com meu filho de 7 anos, me aproximei da seção de armamentos em uma loja de departamentos. Para quem não está acostumado é um choque. Dezenas de clientes apoiados nos balcões examinando escopetas, metralhadoras, revólveres e todos os tipos de munição, cartuchos, pentes de bala. Observando a cena fiquei pensando no que estariam pensando aquelas pessoas examinando aquelas armas: tudo isso para atirar em quem ou em o quê? Claro, havia os caçadores e seus rifles e roupas de camuflagem para atirar em patos ou alces ou o que fosse, mas este não parecia ser o mote principal das vendas.
E no Brasil, como seria com mais armas em circulação? Com nosso machismo, intolerância, alcoolismo, com nossas relações pessoais intermediadas por opressões de diferentes matizes, com a nossa ambígua cordialidade a extravasar da esfera individual para a pública paixão e fúria, com nossa cultura de nos engalfinharmos em público por questões risíveis, por tudo isso me parece que mais armas nas mãos de civis trarão apenas mais desgraça. A ver como andará esta agenda. Imagem: DaniVázques/Flickr/https://br.noticias.yahoo.com
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