Caiu-me nas mãos um documento memorável – a instrução do Papa Adriano VI (1522-1523) aos Príncipes alemães, reunidos em dieta na cidade de Nuremberg no dia 3 de janeiro de 1523. A mesma foi lida então pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati.
Na situação de crise de todos os valores morais em que nos encontramos, conhecer tal documento pode ser-nos útil. Como católico, ele o foi para mim, razão pela qual o divulgo. Afinal, Cícero dizia que “a História é a mestra da vida”.
Em sua célebre Geschichte der Päpste (História dos Papas), obra elogiada por Leão XIII e por São Pio X, Ludwig von Pastor transcreve longos trechos dessa instrução de Adriano VI, cujos seguintes tópicos destaco:
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"Deves [dirige-se ao Núncio Chieregati] dizer também que reconhecemos livremente haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja por causa dos pecados dos homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de certo não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos afastam d’Ele, de modo que não nos ouve as súplicas.
"A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo têm origem nos pecados dos sacerdotes, e por isto, como observa [São João] Crisóstomo, nosso Divino Salvador, quando quis purificar a enferma cidade de Jerusalém, dirigiu-se em primeiro lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes; e nisso imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz.
"Bem sabemos que, mesmo nesta Santa Sé, há já alguns anos vêm ocorrendo muitas coisas dignas de repreensão; abusam-se das coisas eclesiásticas, quebrantam-se os preceitos, chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, do Papa até os Prelados.
"Nós todos, Prelados e Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um de nós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira. [...]
"Porém, não procuramos nossa dignidade pontifícia [o Papado, que Adriano VI exerce], e de mais bom grado teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o supremo múnus pastoral. Em consequência, queremos exercê-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura, prestar auxílio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos, e genericamente fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro.” (*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
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