Um ano atrás, o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza saiu de casa na Rocinha, comunidade da zona sul do Rio de Janeiro, detido por policiais militares da Unidade de Policia Pacificadora (UPP), e nunca mais voltou. Ontem (14), o desaparecimento dele foi lembrado em uma missa celebrada no bairro. Parentes e amigos esperam que o Tribunal de Justiça dê o veredito sobre o caso, que tem 25 policiais militares acusados de tortura e do sumiço de Amarildo, cujo corpo nunca foi encontrado. O julgamento está na fase final.
"Acreditamos que, pelo menos, nesta hora, da celebração, temos uma tentativa de conforto, porque conforto mesmo nunca teremos. Esperamos poder enterrá-lo um dia, porque, quando a gente não enterra, temos a sensação de que a pessoa ainda não se foi", disse a sobrinha da vítima Michele Lacerda, que participou do ato católico. Para ela, a condenação dos envolvidos é a chance de encontrar o corpo da vítima e reaver a dignidade da família, acredita.
Anderson Dias, um dos filhos de Amarildo, diz que esse um ano não diminuiu a tristeza e o rancor sobre a brutalidade do ocorrido. “Nunca imaginei que alguém da minha família fosse ser assassinado assim, igual fizeram com meu pai. Ninguém merece ter um fim desses”, declarou. Segundo as investigações policiais, Amarildo morreu sob tortura, na sede da UPP. Ele passou por sessões de espancamento e sufocamento. Foi declarada morte presumida.
A família cobra indenização do Estado por danos morais e materiais, além de tratamento psicológico. Como o atendimento nos postos de saúde são feitos durante o horário comercial, muitos parentes ficam impossibilitados de comparecer. De acordo com o advogado deles, João Tancredo, o governo do estado paga uma pensão de R$ 724, que está desatualizada e precisa ser revista. "Estamos com processo civil", lembrou.
Tancredo aproveitou também para voltar a denunciar perseguição da família de Amarildo, pela polícia, na comunidade, e disse que a viúva da vítima tem sofrido gravemente. "A Beth [Elisabeth Gomes da Silva, viúva] e seus dois filhos mais velhos respondem todos por desacato. Querem levar os meninos para becos, não se sabe o porquê, e eles reagem. Já a Beth vê um policial e pede o corpo do marido, [isso] é razoável."
Anderson, entre os filhos mais jovens do ex-ajudante de pedreiro, conta que as provocações são rotina e que procura "ficar frio". "Direto, quando os policiais nos veem jogam piadinhas, olham de cara feia, querendo que a gente erre no erro deles. Mas o lance é deixar eles provocarem e correr atrás do nosso direito."
O inquérito policial militar que investigava a conduta dos PMs no caso concluiu, há poucos dias, que os militares devem responder ao processo na Justiça Comum. A Corregedoria Interna, que também analisa os fatos, pode determinar, a qualquer momento, a expulsão deles da corporação. A PM não comentou as denúncias de perseguição à família de Amarildo.
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