Estádio Olímpico de Montreal, cartão postal da cidade |
A população brasileira tem motivos de sobra para se preocupar com os impactos nas finanças do país nas próximas décadas após a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.
Apesar do argumento das autoridades de que o elevado custo com a realização destes eventos é compensado pelo legado, na prática pouca coisa será usufruída pela população além de alguns estádios bilionários, obras viárias mal acabadas e modestas ampliações aeroportuárias.
Um caso típico de má gestão dos recursos públicos vem de um país de primeiro mundo que serviu de motivo para que muitas nações não ousassem concorrer como sedes de grandes eventos para evitar o colapso das contas locais. A realização das Olimpíadas de Montreal, em 1976, apesar de ter deixado algum legado logístico à bela cidade canadense localizada na província francofona de Quebec, representou ao mesmo tempo um enorme pesadelo aos administradores locais.
Ao derrotar as fortes candidatas Los Angeles (EUA) e Moscou (URSS), Montreal ficou com dívidas de mais de US$ 2,5 bilhões (RS 5,8 bi) que só foram quitadas mais de 30 anos depois, 2005 e 2008.
As olimpíadas foram uma tentativa quase desesperada de fazer com que Montreal recuperasse o status de cidade mais importante do país, então perdido para a vizinha Toronto, de origem britânica, que nos últimos 40 anos transformou-se na mais importante metrópole do país. Também serviu para que o mundo superasse os problemas ocorrido em Munique (1972), quando terroristas palestinos sequestraram e mataram atletas israelenses nas dependências da cidade olímpica por conta dos conflitos no oriente médio.
Por conta do jogo político com a parte inglesa do país, Montreal não tinha apoio financeiro do governo do Canadá e mais uma vez Quebec teve que se virar e bancar tudo. O dinheiro saiu apenas dos cofres da prefeitura. Não bastasse isso, suspeitas de corrupção e superfaturamento das obras fizeram os custos aumentarem. Apenas o Estádio Olímpico consumiu cerca de R$ 1,2 bilhão, quase 1 milhão de reais a mais do que o previsto.
O Estádio, com sua torre inclinada e moderna arquitetura, um dos principais pontos turísticos da cidade, é praticamente um elefante branco. Mas a situação piorou muito depois que o lugar ficou sem os "inquilinos" do time de beisebol Montreal Expos, que se mudou para os Estados Unidos e virou Washington Nationals, em 2004. Times de futebol americano e de hockey, no entanto, se revezam para não deixar a arena abandonada.
Por possuir teto retrátil, o estádio pode abrigar grandes espetáculos o ano inteiro, além de diversas modalidades esportivas. O parque olímpico ao lado é bastante utilizado em atividades culturais e educativas. Um ginásio multiuso serve de abrigo permanente para o Biodome, uma espécie de zoológico indolor onde as crianças podem ver espécies da fauna e flora de todos os continentes. Arenas para todas as modalidades olímpicas também se localizam no mesmo local, mas pouco aproveitadas.
Como ponto positivo, o metro foi expandido e cobre praticamente toda a região central em um sistema integrado com ônibus no qual o passageiro paga um único passe e pode circular por diversos pontos de Montreal.
Atenas 2004
Montreal carregou sozinha por quase 30 anos o bastão de “mico olímpico”. Mas não foi um caso isolado. É consenso entre os economistas europeus que a gastança desenfreada promovida para a Olimpíada de Atenas, em 2004, foi uma das grandes culpadas pelo atoleiro de que a Grécia tenta fugir atualmente.
Mais catastrófica ainda é a constatação de que o dinheiro consumido pelo evento (US$ 15 bilhões) foi simplesmente jogado no lixo e que parte das milionárias instalações olímpicas de Atenas agora são inúteis e estão abandonadas.
Não é exagero afirmar que o Brasil corre sério risco de fazer o mesmo com os bilhões de reais investidos em arenas como as de Brasília, Cuiabá e Manaus, onde o futebol não tem a mesma força de outros grandes centros do sul e centro-oeste do país para lotar estádios e tornar os investimentos auto sustentáveis do ponto de vista econômico. Olhar Copa
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