Raquel Morais/Do G1 DF
Trabalhando no centro de saúde 1 de Santa Maria, no Distrito Federal, desde outubro, a médica cubana Idania Garrido, de 50 anos, criticou a postura da colega Ramona Matos Rodriguez, que abandonou o Programa Mais Médicos alegando que profissionais estrangeiros recebiam uma bolsa maior que a dos cubanos. "Ela teve uma conduta inadequada. Todos sabiam a missão que cumpriríamos no Brasil", afirmou.
Ramona deixou o cargo em Pacajá (PA) e veio para a capital do país no início do mês, argumentando ter descoberto que, enquanto cubanos recebiam U$ 400 (cerca de R$ 965), outros estrangeiros recebiam R$ 10 mil para fazer o mesmo serviço. A profissional teve o registro cancelado nesta quarta (12). Ela pediu refúgio ao governo brasileiro.
Segundo a médica de Santa Maria, nada disso era desconhecido. "Encaro que ela teve uma atitude errada. Nós viemos para cá sabendo tudo que aconteceria no Brasil. Ninguém veio enganado. Todos estávamos de acordo", diz. "E a minha família recebe uma ajuda do governo de Cuba, justamente porque estou aqui."
Idania afirma ainda que está muito satisfeita de trabalhar no país, por acreditar que pode contribuir com a população que mais precisa do serviço. Ela conta que se inscreveu no programa instigada pelas notícias de que profissionais brasileiros se recusavam a fazer atendimento em áreas rurais.l
Com experiência de 26 meses de trabalho na República da Gâmbia, na África, a cubana garante que as diferenças de idioma e que os relatos de más condições de trabalho não a intimidaram. A surpresa mesmo foi cair em Brasília. "Eu achava que iria para Amazônia."
Afirmando não ter enfrentado dificuldades desde que chegou, nem mesmo em relação a material para o trabalho, Idania diz também discordar da maneira como médicos brasileiros supostamente lidam com os problemas no dia a dia das unidades de saúde. "Fizemos um juramento de trabalhar onde fosse necessário, por quem precisasse", afirma.
"Eu acho que condição se cria. É claro, é responsabilidade do Estado e do Ministério da Saúde preparar os lugares, fornecer os materiais. Mas nós, cubanos, temos uma formação diferente", completa. "Os médicos cubanos só precisam de um estetoscópio, um medidor de pressão e uma caneta. E, também, de saber fazer um bom interrogatório."
Para se preparar para a nova rotina – são nove horas diárias de consultas, palestras e visitas domiciliares –, ela fez seis meses de aulas de português e estudou sobre doenças "que não existem em Cuba". "Chagas e hantavirose. E aqui tem febre amarela, não tem? Eu também estudei sobre ela", afirmou.
Especialista em medicina geral integral e com mestrado em atenção primária em saúde, Idania foi a pioneira em Santa Maria. Além dela, 44 médicos cubanos prestam serviço em unidades básicas de 12 regiões administrativas do DF. De acordo com a Secretaria de Saúde, nenhum deles esboçou vontade de desistir.Em Santiago de Cuba, deixou os dois filhos, de 16 e 23 anos. Os telefonemas são restritos a duas vezes por mês. Já os e-mails são trocados todos os dias.
Os profissionais atuam nas equipes de estratégia da saúde da família, compostas também por um enfermeiro, dois técnicos de enfermagem e cinco agentes comunitários. Cada grupo atende, em média, entre 3,5 mil e 4 mil pessoas.
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