Acompanhada de seus advogados, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva entregou ao Tribunal Superior Eleitoral pedido formal de registro de seu novo partido, a Rede Sustentabilidade. Deixou claro, na petição, ser inadmissível a protelação das medidas burocráticas que, se permanecer, poderá negar ao novo partido o direito de disputar as eleições do ano que vem.
Em política não há coincidências e ainda que não possa acusar a Justiça Eleitoral de estar mancomunada com os interesses de quantos pretendem obstar sua candidatura à presidência da República, Marina acha que é quase isso. Jogar a responsabilidade pela manobra protelatória nos ombros do PT e da própria presidente Dilma seria dar munição aos adversários, mas basta somar dois e dois para concluir pela existência de um lobisomem na floresta.
Afinal, a ex-senadora aparece nas pesquisas eleitorais como a maior competidora da presidente Dilma, com percentuais muito próximos nas preferências populares. É a candidata que, se as eleições fossem hoje, passaria para o segundo turno junto com a pretendente à reeleição. Mas Marina só poderia disputar na hipótese de seu partido ganhar registro. Sempre haveria a possibilidade de encontrar outra legenda, fosse uma dessas de aluguel, fosse seu antigo Partido Verde, que abandonou por divergências internas.
Nos dois casos, porém, estaria prejudicada. O ideal é ver a Rede funcionando, mas são no mínimo estranhos os obstáculos que de repente se erguem em sua trajetória. Já conseguiu mais de 600 mil adesões, mais do que exigido por lei, mas os cartórios eleitorais perdem tempo e tergiversam na hora de aceitar as assinaturas. Fazem exigências descabidas e tentam atrasar o processo, porque se o registro não for concedido até 5 de outubro, a Rede perderá a condição de lançar candidatos. Será isso o que deseja o PT, temeroso de que parte dos votos a serem dados a Dilma se bandeiem para o novo partido?
Entra na equação um dado ainda inconcluso: por que Marina aparece em segundo lugar, logo atrás de Dilma? Não será propriamente identificada como esquerdista, ao menos no sentido clássico, já que sustenta propostas conservadoras em termos de imobilismo ambiental. Talvez sua performance nas consultas se ligue à novidade de ser uma candidata diferente, rejeitada pelo empresariado e oriunda das camadas mais pobres da sociedade.
Além de intransigente na oposição a projetos como da implantação de usinas hidrelétricas na selva ou do asfaltamento de rodovias como a Porto Velho-Manaus, que levaria o desenvolvimento àquela região amazônica, mas poderia prejudicar a floresta intocada e causar danos à fauna e à flora.
Em suma, eis uma candidata pouco ortodoxa, mas obviamente contrária a aspectos tidos pelas elites como essenciais ao mundo moderno. Tempo há para que as assinaturas em favor da Rede sejam certificadas dentro do prazo, apesar da estranheza de tantas exigências, aliás, não adotadas quando da formação de outros partidos, como recentemente o PSD e ainda agora o Solidariedade. Resta aguardar a análise do pedido de registro.
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