JOSÉ GABRIEL NAVARRO-http://www.jt.com.br/seu-bolso/
Quando decidiu ir morar sozinha, há dois anos e meio, a atriz Nayara Teles de Oliveira, de 27 anos, não cogitou manter um telefone fixo no apartamento onde vive, no bairro de Santa Cecília, centro da capital. “Nunca tive essa vontade, acho mais fácil ter só o telefone celular.”
A realidade de Nayara se comprovou maioria no País na semana passada, quando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2011, apontou que 49,8% dos lares no Brasil contam exclusivamente com linhas de telefones móveis. Como base de comparação, o IBGE recorda que, dez anos atrás, esse grupo correspondia a 7,8%.
“A pergunta feita pelo brasileiro ao comprar uma linha telefônica mudou”, acredita o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude. “Antes nós nos perguntávamos se valia a pena ter um celular. Hoje queremos saber por que compensaria ter uma linha fixa, o que costuma ocorrer quando se faz muitas chamadas para outros números fixos, ou se você tem um escritório, ou se adquiriu um combo interessante do qual o fixo faz parte.”
Há outro fator importante que contribuiu para essa mudança. “Enquanto as empresas geralmente cobram até pela assinatura do telefone fixo, para o celular a gente vê uma série de benefícios, inclusive o uso mais difundido de pacotes pré-pagos, que facilitam o controle do orçamento”, afirma o diretor da área de telecomunicações da consultoria Nielsen, Thiago Moreira.
Menos gastos
Nayara conhece esses benefícios na prática. Coloca R$ 18 por mês de crédito no celular e tem dois chips, um para usar em São Paulo e outro, de uma segunda operadora, para telefonar para mãe, que vive no interior do Estado. Há cerca de três meses, uma amiga da faculdade de Artes Visuais foi morar com ela, e, juntas, decidiram continuar sem telefone fixo. Cada uma se comunica com o próprio aparelho móvel.
“O preço para chamadas da mesma operadora muito baratas reforça a tendência que já vinha nos anos anteriores”, diz Tude, da Teleco. Ele se refere ao hábito de ter chips de mais de uma operadora para aproveitar descontos e promoções. “Para as chamadas de uma operadora só, são mais vantajosos que os fixos.”
Mercado acirrado
A consequência mais direta do uso de vários chips é que o mercado de telefonia móvel no Brasil é considerado um dos mais acirrados. Cada uma das quatro maiores operadoras, sozinha, já tem mais linhas que o total de números fixos do País, 43,4 milhões em junho de 2012. Nesse mesmo mês, a Vivo tinha cerca de 76 milhões de contas, a Tim, 69 milhões, a Claro tinha 63 milhões e a Oi, 48 milhões. Os dados são da Teleco.
Mesmo disputando tanto a preferência da freguesia, as marcas de telefonia móvel recebem mais queixas no Procon-SP que as de telefonia fixa. Foram quase 13 mil reclamações contra operadoras de celular no primeiro semestre deste ano, 17,3% a mais que no mesmo período de 2011.
Já as marcas de telefonia fixa foram alvo de cerca de 12,2 mil queixas entre janeiro e junho de 2012, 30% a mais que no primeiro semestre do ano passado, de acordo com o órgão de defesa do consumidor. Em ambos os casos, o motivo predominante das reclamações é o mesmo: cobranças indevidas ou abusivas.
“As operadoras também não têm conseguido lidar com o número de pessoas que tentam navegar pelo celular”, diz Moreira, da Nielsen. Na primeira metade de 2012, cresceu 107% no Brasil a venda de smartphones, celulares conectados à web, em relação ao mesmo período de 2011.
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