A greve das universidades federais, iniciada há mais de dois meses, sofreu um racha ontem. A Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais (Proifes), que representa 6 das 57 instituições paralisadas, aceitou a proposta do governo e assina hoje um acordo para encerrar o movimento.
"O fim da greve vai depender de cada sindicato, depois que assembleias locais forem realizadas", afirmou o presidente da entidade, Eduardo Rolim. Por enquanto, apenas a Universidade Federal de São Carlos, em assembleia, decidiu acatar a proposta do governo, o que pode representar um sinal de que a paralisação poderá acabar na instituição.
Para justificar a decisão, a Proifes apresentou uma pesquisa feita pela internet com cerca de 5 mil professores. O acordo foi anunciado após reunião de mais de duas horas entre representantes dos Ministérios do Planejamento e da Educação com integrantes de associações que participam do movimento e arrancou protestos das demais entidades.
"Esse acordo não tem representatividade. A greve vai continuar. Vamos ver quem tem mais força", disse a presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Marinalva Oliveira.
O secretário de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, deu essa etapa de negociação como encerrada. O governo deve enviar ao Congresso a proposta do novo plano de carreira para professores universitários apresentada na semana passada.
Reivindicações. A paralisação atinge 57 das 59 federais e afeta, segundo o Planejamento, 500 mil alunos. O movimento, iniciado em maio, reivindica reajuste salarial, plano de carreira e melhores condições de trabalho. Ao longo da greve, o governo apresentou duas propostas. Na mais recente, foi feita a oferta de um aumento entre 25% e 40% até 2015 e um plano de carreira com 13 níveis, em vez dos 17 inicialmente sugeridos. Nessa versão, o impacto no Orçamento seria de R$ 4,18 bilhões, 7% a mais que os R$ 3,9 bilhões previstos na primeira proposta.
Para o Andes, o formato sugerido pelo Planejamento aumentaria as distorções na carreira. Entre os pontos considerados inaceitáveis está a diferença do salário dos professores. Os grevistas defendem que aqueles que trabalham 40 horas semanais recebam o dobro do que os que têm jornada de 20 horas. Também contestam o formato da progressão na carreira. O governo atrela a ascensão à titulação. Para professores, a progressão deve ser feita pelo tempo de carreira. A titulação serviria como acréscimo, não condicionante.
Força. Apesar da reação do Andes, o secretário de Ensino Superior do MEC, Amaro Lins, avalia que a greve começa a perder força. "A partir da semana que vem algumas instituições deverão retomar as atividades. Dialogamos, fizemos tudo o que era possível, atendemos a algumas demandas consideradas justas." Por LÍGIA FORMENTI / BRASÍLIA, estadao.com.br