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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Psicanalista alerta que fim dos filtros personalizados, expõe o excesso de manipulação da imagem

É oficial. O Instagram anunciou o fim dos filtros embelezadores, personalizados. Esses famosos filtros de imagem são uma verdadeira sensação e possuem elevado índice de utilização.
A remoção reascende a discussão sobre a polarização e maximização do belo e perfeito, propagado pelas mídias, popularizada com a utilização exagerada de ferramentas como os filtros que evidenciam uma necessidade em apresentar uma aparência, distante da realidade, marcada pelo efeito computadorizado de medidas simétricas perfeitas para impressionar.

Para a psicanalista Andrea Ladislau, o fato é que, o exagero no uso dos filtros virtuais destaca o desejo da perfeição, estabelecendo um senso de estética e padronizando perfis.

"E a grande verdade é: onde foram parar os nossos rostos reais? As olheiras marcadas? As manchas na pele causadas pela acne acentuada? E as imperfeições naturais provocadas pelos sinais da idade que os filtros insistem em esconder?", indaga a especialista.

Para a especialista, isso pode afetar o bem-estar e o psicológico de quem vive a partir de uma realidade virtual distorcida, alimentando, através da insatisfação com sua aparência, uma tendência de baixa autoestima e, possível depressão, desconstruindo o real. Atendendo aos apelos de uma sociedade que cultua o belo e promove uma extrema exposição, através do vício danoso da manipulação da própria imagem.

"É a prevalência da imposição das ilusões virtuais que mostram que, o desejo e a vontade em pertencer ao grupo dos belos e perfeitos, dos rostos simétricos classificados por rótulos, em contraponto a busca de expressão de sua própria individualidade que, na maior parte das vezes, justifica-se por um sentimento de insuficiência e competição.

Andrea complementa que esse exagero na utilização dos filtros embelezadores alimenta o sentimento narcísico do ser humano, aumentando a sua necessidade de espelhamento, pois estimula o desejo de que o outro o perceba sempre belo e perfeito, expondo, de forma intensa, suas emoções e promovendo distorções depressivas através de crises de ansiedade e de uma possível sensação de opressão, uma vez que não se consegue ser feliz sendo ele mesmo.

Segundo a especialista é preciso estar atento a estes efeitos psicológicos da vida digital que, superestimam a nossa imagem e podem desencadear o que chamamos de “Síndrome da Decepção Continuada”, quando não se reconhece como se é.

"Minha imagem real não agrada e só consigo aceitar a imagem que será perfeita para a sociedade", diz.

Portanto, para Andrea, o fim dos filtros personalizados, talvez possa ajudar a reduzir esses impactos da busca e predileção por imagens e perfis mais positivos e, esteticamente, mais atraentes.

O que reflete uma falsa realidade e a mais pura rejeição da imagem real e segura em prol de uma imagem desejável e aceitável por todos.

"Infelizmente, esse tipo de comportamento sugere a rejeição do amor próprio e evidencia, em alguns casos, complexos, camuflados por uma necessidade de reconhecimento. Reflita: porque eliminar sua individualidade através das redes sociais? Onde está sua aceitação? Ou seja, se faz necessário refletir sobre seu comportamento e postura nas mídias", alerta.

A psicanalista reitera que é preciso controlar o vício da manipulação da imagem e fugir da imposição neurótica de uma vida de aparências.

"É fundamental reconectar-se consigo mesmo, pois o ser humano não morre quando o coração para de bater, ele morre quando deixa de se sentir e se perceber de verdade", finaliza.

Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Também é neuropsicóloga. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.

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