por Fernando Duarte / BN
Foto: Reprodução/ Redes sociais
"A palavra convence, mas o exemplo arrasta". A frase comumente atribuída a Confúcio é um mantra desses momentos de auto-ajuda e serve como motivacional para atitudes de um líder. É uma lição bem básica no processo de construção de uma liderança. E também uma aula em que o presidente Jair Bolsonaro parece ter se ausentado e sem qualquer constrangimento. Tanto que, durante as pseudo manifestações democráticas, ele foi extremamente irresponsável com recomendações médicas e sanitárias, para manter a narrativa que alimenta seus seguidores.
Do que eu estou falando? Depois de sugerir que as pessoas evitassem aglomerações, como tem preconizado o Ministério da Saúde e diversos países ao redor do mundo, Bolsonaro passou o domingo incentivando atos de apoio ao governo em diversas cidades do Brasil. A cereja do bolo foi ele próprio ter deixado o Palácio da Alvorada, onde estava em isolamento preventivo, para o Planalto e lá ter cumprimentado simpatizantes sem qualquer preocupação com o risco de expor ou de ser exposto ao novo coronavírus. Não precisa ser nem adversário dele para perceber o quanto essa atitude fugiu completamente da expectativa de um líder, que deveria ser exemplo e acabou pondo em risco a própria integridade física.
Isso sem entrar no mérito de que as mobilizações pediam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, posicionamentos antidemocráticos que deveriam passar ao largo de um chefe do Executivo. Bolsonaro se tornou uma construção narrativa tão estranha que manter esse personagem pode trazer um alto custo para a manutenção do Estado brasileiro. Por isso, é muito comum ouvir discursos contra o "comunavírus" ou frases prontas de que a Covid-19 é coisa da cabeça de especialistas meia boca ou da imprensa maldita. Em São Luís, a sugestão de que o novo coronavírus foi uma invenção dos chineses viralizou ao ponto de ser encarada como real por muitos.
Enquanto esse circo em torno e em prol de Bolsonaro se mantinha de lonas hasteadas, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, continuou com a postura esperada de uma autoridade. Não recomentou a participação em aglomerações e pedia que as pessoas que pudessem optar pelo isolamento o fizessem. Como falado antes, é um poço de sensatez em um universo de realismo fantástico que ronda Brasília e a Esplanada. Caso o povo se guie pelo exemplo do presidente da República, a perspectiva não é das melhores para controlar o avanço do novo vírus. No máximo, vamos conviver com pessoas em uma espécie de ensaio sobre a surdez, escolhendo, entretanto, aquilo que se quer ouvir. O dito atribuído a Confúcio, no entanto, não fará parte dessa audição seletiva. A palavra irresponsável ainda continuará vigorando em meio ao caos.
Este texto integra o comentário desta segunda-feira (16) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.
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