por Fernando Duarte / BN
Idas e vindas no governo Jair Bolsonaro já são parte da rotina. Dessa vez, uma Medida Provisória (MP) não precisou nem de 12h para ser revogada. Após permitir a suspensão por quatro meses dos contratos de trabalho - sem o pagamento de salários -, o presidente da República recuou. Retirou da MP o artigo que tratava do tema, não sem antes tentar mantê-lo. Chegou a afirmar na tradicional coletiva do cercadinho à frente da Alvorada que a medida era uma defesa do direito dos trabalhadores. Nem o bolsonarismo acreditou.
A flexibilização de leis trabalhistas já era esperada dentro do cenário de crise do novo coronavírus. O próprio governo havia sinalizado a hipótese de reduzir a carga horária, acompanhada pela redução proporcional dos salários. No entanto, a suspensão temporária dos contratos de trabalho atingiria em cheio a renda básica do trabalhador, o que provocaria um efeito em cadeia problemático em meio ao caos. Como de costume, o Executivo federal preferiu apresentar a medida antes de dimensioná-la. O resultado foi esse recuo, como uma chance de minimizar os efeitos políticos negativos da proposta.
São situações como essa que geram descredibilidade para a atuação de Bolsonaro frente à Covid-19. Tanto que diversas pesquisas apontaram o descontentamento com o presidente no enfrentamento da crise. Caso mantido o ritmo, o chefe do Executivo perderia rapidamente as condições políticas de conduzir o país, mesmo que a alta cúpula decisória do Brasil evite falar em impeachment no momento. É certo que não é hora de afastar o presidente. Todavia, ninguém reclamaria se a incontinência verbal de Bolsonaro fosse melhor administrada.
Já não é mais permitido insistir na tese de uma “gripezinha” para conduzir as políticas públicas para impedir a disseminação do vírus. Tanto que, para uma parcela expressiva da população, as iniciativas de governadores e prefeitos para tentar coibir o contágio em massa com o novo coronavírus geraram dividendos positivos na comparação com Bolsonaro. O presidente esticou a corda ao máximo e, agora, foi obrigado a admitir que a situação é muito mais grave do que ele gostaria – “O Fantástico Mundo de Bob” foi apenas um desenho da década de 19.
Antes que Bolsonar possa capitalizar politicamente o recuo, o posicionamento contrário dos mais diversos segmentos deve provocar um desgaste maior do que a expectativa presidencial. Diante das mais diversas apostas altas que o governo fez até aqui, talvez essa possibilidade de suspender salários por quatro meses tenha sido a mais alta. Mesmo que tenha sido um blefe - o que não parece o caso -, foi truco contra o Palácio do Planalto.
Este texto integra o comentário desta terça-feira (24) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.
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