PA - Esperando que o parto da irmã demorasse pelo menos mais um mês para acontecer, foi no susto que Ester Pamplona se viu pela primeira vez, aos 25 anos de idade, com a responsabilidade de trazer uma vida ao mundo. Alterando qualquer planejamento, as dores se fizeram presentes e, antes que se pudesse perceber, o parto já havia sido feito pela jovem, que até então buscava uma profissão para exercer. Nascia em 1967, no município de Cachoeira do Arari, não apenas o sobrinho, mas também a parteira que, aos 72 anos, já teve nas mãos as vidas de aproximadamente quatro mil crianças. Fonte: Diário do Pará
Batizada Ester, a senhora tímida e de movimentos delicados também atende pelo apelido de tia Naza, como, aliás, é conhecida ainda hoje no município onde morou por 48 anos e onde fez a grande maioria dos partos. “Depois que eu fiz o parto da minha irmã, resolvi fazer o curso de parteira leiga. Trabalhei no Hospital de Cachoeira do Arari por 27 anos, mas muita gente também batia na minha casa pedindo para eu fazer o parto. Só na minha casa eu fiz uns 100 partos”, recorda com os olhos já marejados pelas lembranças. “Eu me sinto um pouco mãe deles. Até hoje quando volto a Cachoeira (Cachoeira do Arari) é uma alegria, eles me chamam de mamãe.”
Sem hora para aparecer, as mães que chegavam à porta de tia Naza eram sempre recebidas. Com o auxílio de toalhas, um avental, um par de luvas, touca e tesoura, era ali mesmo, em uma cama instalada especificamente para este fim, que a parteira acolhia as crianças. Apesar da calma mantida até hoje, nem sempre os partos realizados por tia Naza eram dos mais tranquilos. “Eu já fiz duas barrigadas de gêmeos, já fiz parto que a criança tava sentada, já fiz parto que, ao invés de vir a cabeça da criança, veio primeiro a mão...”, recorda, orgulhosa por ter conseguido êxito em todos eles. “São partos de risco, mas que, graças a Deus, davam certo”.
CONFIANÇA
Da experiência adquirida parto a parto, a parteira conquistou não apenas a confiança das gestantes, que faziam questão de entregar o nascimento dos filhos nas mãos de tia Naza, mas também dos profissionais de saúde que atuavam no hospital onde fazia plantão. Nos casos mais difíceis, a parteira era procurada em casa por funcionários do hospital até mesmo em seus dias de folga.
“A moça que estava de plantão não estava dando conta de fazer o parto porque o cordão tava enrolado no pescoço da criança”, lembra, contando apenas um dos casos. “Quando tava assim e eu não tava de plantão, eles corriam sempre comigo e eu ia pro hospital. Eu consegui fazer o parto da pequena e nasceram todos os dois, eram gêmeos”.
Sem hesitar diante de casos complicados, um parto em especial emocionou tia Naza além do normal. Tendo gerado e parido – faz questão de informar que todos os filhos nasceram de parto normal - oito filhos, ela teve a oportunidade de fazer o parto de dois netos.
“Eu sempre dizia que eu só não ia fazer parto de filha minha. Mas na segunda gravidez da minha filha ela pediu que eu fizesse porque não queria mais parir no hospital e eu fiz. Hoje a minha neta tá com 21 anos. Ainda fiz o parto de outro neto, um menino que agora tá com 20 anos”, orgulha-se. “Quando eu pegava a criança nas mãos, me sentia muito satisfeita, emocionada. O meu primeiro parto foi com 25 anos e o último foi com 66 anos, um pouco antes de eu me mudar pra Belém. Mas, se for preciso, ainda hoje, com 72 anos, eu faço”. Foto: Reprodução*Fonte: Diário do Pará
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