Na semana passada, um fato insólito, raro, raríssimo, despertou a atenção para a situação financeira que o estado da Bahia atravessa, mergulhado em dificuldades, cujas razões são incertas, pontuadas de dúvidas. O prefeito da segunda cidade em importância na Bahia, Feira de Santana, José Ronaldo, recebeu do governo estadual um estranho pedido: recursos para atender às necessidades do principal hospital da região, o Clériston de Andrade.
O que estará acontecendo com o estado? Talvez o principal governador aliado da presidente Dilma Rousseff, Jaques Wagner tenha corrido a cuia dos pedintes e dos necessitados na direção de Ronaldo em razão de não ser atendido pelo governo federal por algum motivo sério. Ou a Bahia tem dívida demais ou o governo federal está sem disponibilidade. Ademais, a prefeitura de Feira de Santana é administrada por um oposicionista, integrante do DEM, e é o segundo colégio eleitoral baiano. Ficou, no ar, uma imensa interrogação. José Ronaldo depositou a sua contribuição na cuia do pedinte, para que não piorasse a situação da saúde na sua cidade.
Na mesma semana, houve denúncias e revoltas em Salvador diante da falta de medicação num dos principais Pronto Socorro da capital. Os internados, para tratamento de urgência, não dispunham de remédios para atendê-los. A falta é consequencia da crise que chegou a tal estágio que até medicamentos faltam (o que aliás, não é anormal) para atender os internados, sem se falar que “internamento”, no caso, é apenas uma forma de dizer, por que as macas, como os doentes e acidentados, são espalhadas pelos corredores por falta de vagas nos quartos dos hospitais. Isso não é novidade.
De há muito que ocorre situações desta ordem, gerando tristes imagens das dificuldades que tais hospitais enfrentam, por falta de recursos, ou administrações carentes, senão incompetentes. Mas correto é tomar como verdadeira a primeira opção, porque se prevalecesse a segunda, o caos estaria na ausência de uma gestão eficiente no setor da Secretaria da Saúde, que poderia ou poderá estar interligada a problemas de falta de recursos na Secretaria da Fazenda do estado.
Há meses e meses que se tem notícia de que a situação financeira da Bahia é das piores, mas as últimas informações estavam no plano de a situação tinham melhorado. A Secretaria da Fazenda tem um corpo de funcionários dos melhores, muitos com cursos de especialização fora do País. A Fazenda era e é um brinco em comparação com as demais secretarias, uma montanha delas sem a menor necessidade. Chega-se ao absurdo de contar-se 32, talvez influência da administração da presidente Dilma que dispõe de 39 ministérios.
Na semana passada, aliás, o pré-candidato socialista Eduardo Campos anunciou que se for eleito irá cortá-los pela metade. Ainda ficarão muitos. O governo federal atravessa dificuldades, a economia pouco a pouco desaba e o Brasil já não está mais no patamar dos emergentes que eram cantados em prosa e verso no exterior. Pouco a pouco, em consequência da crise e talvez da incompetência de gestão, o País desce a ladeira, mas, mesmo assim, não foi brindado com uma reforma administrativa porque os ministérios são usados para serem distribuídos com os partidos políticos que, em compensação, lastream o governo federal apoiando os interesses do Palácio do Planalto no Congresso. Mesmo que assim seja, atualmente enfrenta problemas, como é o caso com o PMDB que quer porque quer mais um ministério nesta reta final do último ano de mandato da presidente, ameaçando deixá-lo a pão e água.
O PMDB ameaça dissentir da candidatura de Dilma apresentando candidatos que apoiarão outros presidenciáveis em diversas unidades federativas. O número deles é elevado. Mas, pode-se citar, para ficar perto, aqui na Bahia e em Pernambuco, e um pouco mais longe, no Acre. A situação não parece ser favorável à presidente que ainda enfrenta problemas delicados na sua administração, que de certo modo não vai bem, embora ela já esteja, precipitadamente, em plena campanha eleitoral.
Enfim, correr a cuia de cego como nas feiras livre para pedir ajuda a prefeitura de Feira de Santana não é um bom sinal, como de igual modo é péssimo a grita da população pobre que não conta com remédios adequados nos Prontos Socorros. Há alguma coisa que extrapola a realidade de uma administração pública, o que leva a crer que a Bahia atravessa dificuldades. Aliás, isto é fato, porque já foi o quarto estado em importância da federação, passou para o sexto lugar e agora está em oitavo. Claro, os baianos enfrentaram problemas seríssimos com a inclemente seca que se abateu sobre boa parte do território, principalmente o semiárido. Mas, de maneira geral, o flagelo alcançou todo o Nordeste.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta terça-feira (18)
Nenhum comentário:
Postar um comentário