Dilma a 1,99 nas bancas búlgaras.
Na viagem ao país de Petar Roussev, Dilma nem desconfiou que o grande caçador de cretinices acompanhava a comitiva presidencial e acabou capturada em Gabrovom a Itu, da Bulgária. Vejam parte do histórico relato do nosso enviado especial à Bulgária, Celso Arnaldo Araújo.
Apesar da natural falta de jeito, os passos tentam ser solenes e sincopados – é a presidente, ao som do hino nacional búlgaro, seguindo os três soldadinhos de chumbo que carregam uma coroa de flores com as cores da bandeira brasileira, para ser depositada no túmulo do soldado desconhecido, na capital Sófia. Ela se detém ao final do tapete vermelho, aguardando a colocação da corbeille. E então recomeça a marcha em direção à oferenda. Ao chegar, ajeita alguma coisa no arranjo floral e curva a cabeça, em reverência. Recompõe-se, espera sete segundos e abaixa a cabeça uma segunda vez, um tanto hesitante – o cerimonial não explicou direito se eram uma, duas ou três vezes e o intervalo entre elas. E então faz meia volta, agora em silêncio respeitoso – a banda marcial recolheu os instrumentos. Só se ouvem então os passos do meio salto agulha da “presidente búlgara do Brasil” — como ela mesma gostou de se intitular na visita histórica à terra de Petar Roussev — de retorno à passarela rubra. Em 1min25s, o registro de um momento histórico.
“Никога в историята на тази страна” (Nunca na história deste país) um presidente brasileiro colocou flores no túmulo do soldado desconhecido da Bulgária (um jornalista jocoso, cobrindo a viagem de Dilma, chegou a perguntar a um colega: haveria, por acaso, algum soldado búlgaro conhecido?). Aliás, em toda a história da nossa República, nenhum presidente brasileiro fez qualquer coisa na Bulgária. E é provável que não volte a fazer.
...
Gabrovo, com 60 mil habitantes, aos pés dos Balcãs, é uma espécie de Itu búlgara. Se a cidade paulista ganhou fama folclórica por sua mania de grandeza, Gabrovo se notabilizou pela sovinice de seus habitantes. Ali, um sujeito estava com uma piada engatilhada para contar à presidente – pena que não teve chance.
Um gabroviano vai para o céu e começa um diálogo com Deus, que também é de Gabrovo, pelo menos antes do comunismo:
– Meu Deus, o que é para o senhor dois mil anos?
– Um minuto – Ele responde.
– E 500 mil euros?
– Dez cêntimos de euro.
– Senhor, dai-me 10 centavos.
– Espere um minuto.
Pode não ser um humor muito afiado, mas, por essas e outras, Gabrovo se consagrou – entre os que já ouviram falar em Gabrovo — como a cidade mais engraçada da Bulgária. Lá tem até um salão de humor, equivalente ao de Piracicaba. Donde, Ziraldo na delegação presidencial. Brasil e Bulgária são sempre vizinhos nos stands de diversos salões de humor internacionais – quando nada, porque, pela ordem alfabética, Bulgária fica colada ao Brasil, já que em Brunei não existe humor. Daí talvez se explique o bom humor permanente da presidente Dilma.
Sob um sol radiante, centenas de habitantes de Gabrovo ocuparam o pátio do colégio Vassil Aprilov, onde Petar Roussev acabou seus estudos em 1918. Todos queriam ver e escutar a “presidente búlgara do Brasil”. Ela foi conhecer o colégio e, na saída, falou de sua emoção.
– A sra, engasgou?, pergunta um repórter que percebeu a dificuldade de Dilma em concluir seu pensamento durante o pequeno discurso que fez na escola do pai.
– Engasguei, parei de falar, não conseguia, não conseguia formular, porque é uma coisa impressionante você tá no lugar que seu pai estudou.
Pedro Rousseff não parou de estudar quando foi para o Brasil – só assim se explica por que a presidente Dilma também engasgue e não consiga formular um único pensamento no Brasil.
Um repórter quer saber como recebeu a manifestação espontânea do povo búlgaro nas ruas.
– Não entendo tudo o que falam, como ocês podem sabê, mas as expressões afetivas são universais.
Se não entende tudo, entende um pouco? Mais ou menos:
– Agora, na verdade, cê veja, eu falo duas palavras: falo “baglodariá” e falo agora uma que eu esqueci.
Provavelmente, esqueceu de duas, “Zdraveite, gvardeyci”, que poderia ser traduzido livremente em dilmês por:
– Oi, guardas.
Quanto a “baglodariá”, cartas para a redação.*Augusto Nunes
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