Dois homens estão retidos no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, há dez dias, sem poder entrar no Brasil ou voltar para o país de onde vieram.
Eles afirmam que são refugiados, mas a Polícia Federal diz que nada pode fazer até conseguir identificá-los.
Segundo Bishwas Raj, 21, ele e o tio, Ganesh Raj, 32, iam do Nepal para os Estados Unidos para pedir refúgio. Ao chegar ao Brasil, no dia 30, um homem que os acompanhava na viagem como "agente" sumiu levando documentos, passagens e dinheiro, afirma.
A Polícia Federal, que controla o acesso à ala restrita conhecida como conector, onde estão os dois homens, não permitiu que a reportagem falasse com eles ontem.
A Folha conseguiu entrar em contato com Bishwas por telefone. Ele disse que agora busca asilo no Brasil porque no Nepal, de onde afirmou ter vindo, é perseguido por ter origem butanesa.
"Já dissemos diversas vezes para a polícia que queríamos ficar aqui como refugiados", afirma Bishwas.
A PF informou que os dois não pediram refúgio e que apenas dizem que querem ficar no país para trabalhar.
De acordo com a PF, antes de começar o processo de concessão de refúgio, seria preciso identificá-los para saber se eles nunca foram condenados por crimes como o de tráfico de drogas.
Bishwas acusa a PF de submetê-los a maus-tratos.
"Não nos dão comida. Estamos dormindo no chão. Nos levaram ao banheiro anteontem. Tivemos que tirar a roupa e eles molharam a gente e nos bateram", diz Bishwas.
A PF afirma que são "inverídicas" as acusações de violência. Diz ainda que a "responsabilidade pela manutenção do indivíduo que [...] não consegue entrar no país de destino é da companhia aérea pela qual viajara", mas que ele e o tio se negam a dar o nome da empresa.
O refugiado que chega ao Brasil deve pedir reconhecimento de sua condição à Polícia Federal, que encaminha o processo ao Comitê Nacional para Refugiados, do Ministério da Justiça. Enquanto aguarda, normalmente fica em centros para acolhida de refugiados.
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