Suspeito de usar dinheiro de doação é apresentado pela Polícia Civil — Foto: Magno Dantas/TV Globo. REPORTAGEM NA ÍNTEGRA COM VÍDEO AQUI
Mateus Henrique Leroy Alves, de 37 anos, suspeito de usar cerca de R$ 600 mil arrecadados em campanha para tratamento do filho doente, também pode estar envolvido em esquema de gerenciamento de garotas de programa.
De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais, ele é investigado por usar parte do dinheiro doado para o filho, que tem atrofia muscular espinhal (AME), com passeios, perfumes caros, relógios e roupas de marca. A investigação aponta que a quantia desviada financiou, ainda, farras, bebidas e drogas.
A campanha para recolher dinheiro para o filho de Mateus, João Miguel, de 1 ano e 7 meses, comoveu os moradores de Conselheiro Lafaiete (MG), onde a família mora. Em quase um ano, foi arrecadado mais de R$ 1 milhão. O dinheiro, que seria usado para comprar um medicamento caro – cada dose custa cerca de R$ 360 mil –, era esbanjado pelo pai.
Com autorização da Justiça, a Polícia Civil gravou conversas por telefone entre Mateus e uma mulher. O diálogo foi mostrado neste domingo (28) no Fantástico:
Mulher: “e cê confia, Mateus?”
Mateus: “de olho fechado.”
Mulher: “tá bom, então.”
Mateus: “são meninas que já trabalhou na minha casa lá de [Conselheiro] Lafaiete, de Belo Horizonte.”
Os planos de Mateus, no entanto, não deram certo. Na semana passada, ele acabou preso no quarto onde estava hospedado em Salvador e levado para Minas Gerais. Ele foi denunciado pela mulher, Karine Rodrigues, que considerou suspeita sua atitude e até pediu bloqueio judicial das contas junto à Vara da Infância e Juventude. Com Mateus, a polícia encontrou perfumes caros, relógios e roupas de marca, algumas delas ainda com a etiqueta.
“Ele fala que gastou cerca de R$ 600 mil, ele efetivamente gastou, sendo que R$ 300 mil foram gastos com farra com mulheres, com bebidas e com drogas. No momento da prisão, inclusive, ele estava com porções de maconha. E [com] o restante do dinheiro, ele alega que estava sendo extorquido”, disse o delegado Daniel Gomes.
R$ 7 mil gastos em motel de BH
A vida de ostentação do suspeito começou em Minas Gerais. Os investigadores descobriram que, durante nove dias de maio, ele gastou mais de R$ 7 mil para se hospedar em um motel em BH. Ele ficou na suíte mais luxuosa, onde há adega com vinho importado, frigobar, espaço gourmet, jukebox e TV a cabo. O quarto tem até barra de pole dance, banheira de hidromassagem e luz especial.
O que diz a defesa
A defesa diz que Mateus estava sendo vítima de extorsão. “A história que ele me contou parece que é a mesma que ele já contou para o delegado, que ele foi, na verdade, extorquido, né? [Isso aconteceu] quando ele foi para Belo Horizonte fazer um curso de segurança. Um curso interessante, porque parece que foi a própria irmã que pagou. Ele foi fazer o curso e conheceu uma pessoa que o levou até uma boca de fumo. Nessa boca, ele comprou droga (…) e pensou em fazer uma sociedade com um traficante. Esse traficante, então, talvez não sei se já sabia ou investigou um pouco sobre o Mateus, descobriu sobre a campanha, dos valores da campanha e, em cima disso, começou a extorquir [dinheiro] do Mateus”, disse o advogado Túlio César de Melo Silva.
Até a polícia fez campanha
Reprodução
Em Conselheiro Lafaiete, a atitude do pai que parecia ser amoroso e preocupado com o filho doente foi motivo de espanto e revolta.
“Como que ele rouba o dinheiro do próprio filho que está doente?”, questionou a vendedora ambulante Aparecida de Souza.
“Todo mundo ficou sem entender o porquê. Porque ele ajudou nas campanhas também. A gente também ajudou, tirando da gente pra poder doar, né”, questionou a dona de casa Josiane Soares.
Até a polícia fez campanha por João Miguel. “A Polícia Civil também se mobilizou, nós fizemos uma corrida pela vida aqui, em Conselheiro Lafaiete, com mais de 500 inscritos para arrecadar fundos e todos nós hoje, polícia, família, nos sentimos traídos pela conduta desse cidadão”, explicou o delegado Carlos Capistrano.
Nas redes sociais, artistas e jogadores também pediram ajuda para campanha. O goleiro Victor, do Atlético-MG, doou uma camisa para ser leiloada. “É um sentimento de qualquer um, um sentimento de revolta, de tristeza, de lamentação (…) A que ponto chega a maldade, a falta de amor no coração do ser humano… Então realmente é algo que, quando eu recebi a notícia, foi algo muito chocante, algo bastante frustrante, foi algo… triste, mas felizmente foi descoberto aí e tenho certeza que vai pagar por isso”, disse o jogador
A família deixou de fazer a campanha desde junho, quando conseguiu na Justiça o direito de receber do Sistema Único de Saúde (SUS) três doses do medicamento.
Com o dinheiro que estava na conta, a compra das outras três doses que ele precisa estavam garantidas, mas, agora, a situação é outra.
“A causa é nobre, a campanha deve continuar em prol do João Miguel e da mãe dele (…) O único que deve ser responsabilizado com essa história toda é apenas o pai que cometeu essa atitude criminosa. O menino não deve ser responsabilizado, pelo contrário, acredito que seja o momento até de ganhar força para que ele consiga o tratamento e consiga continuar sobrevivendo”, falou Daniel Gomes. G1