por Fernando Duarte**Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve destaque no noticiário da última semana e tende a manter os níveis de atenção na que se inicia. Depois de ter anuladas as condenações contra ele, o que o coloca como um potencial candidato em 2022, os olhos se mantêm no Supremo Tribunal Federal durante a discussão sobre a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro para julgar o petista. Independente do resultado sobre a atuação de Moro, Lula de volta à cena mexe com qualquer configuração prevista para o pleito do próximo ano - e não apenas no plano federal.
O petista reaparece como um nome possível para confrontar a natural candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro. O atual presidente, inclusive, já deu sinais de que aguarda esse embate, além de ter se comportado como ligeiramente acuado com a possibilidade de enfrentar Lula. Para 2022, a dicotomia petismo x antipetismo vai ser testada nas urnas com a presença do ex-presidente, algo que não aconteceu em 2018. A forma como as narrativas vão ser controladas e apresentadas deve ser decisiva para a construção da campanha eleitoral. Aos poucos, é possível até identificar os primeiros sinais disso, inclusive.
Enquanto Bolsonaro é o antipetismo em estado bruto (no sentido quase literal do termo), Lula é o petismo no sentido mais explícito, com seus prós e contras. Apesar de serem pontos distintos de uma dicotomia, não dá para colocá-los numa falsa simetria, tal qual já começa a figurar em alguns discursos. O atual presidente é da extrema direita e o ex é um representante da esquerda com flertes com o centro. Lula está longe de ser comunista e, em algumas situações, se comportou como um liberal-capitalista com mais significância que Bolsonaro. Então é preciso ficar atento para as eventuais percepções que coloquem ambos como extremos e opostos - são opostos, mas apenas o atual presidente é de um extremo.
O impacto no pleito federal é visível. As chamadas forças mais ao centro passarão por um processo de reagrupamento ou até mesmo de adesão aos dois nomes já postos. O comportamento de cada sigla vai depender das alianças costuradas nacionalmente, porém as negociações locais serão tão impactantes quanto. Por isso os baianos terão que observar ainda mais atentamente a balança política com a possível participação de Lula no pleito. Se antes o candidato do governador Rui Costa, provavelmente o senador Jaques Wagner, já reunia força o suficiente para manter as siglas do atual entorno, com o nome do ex-presidente como candidato isso ganha ainda mais ênfase. O lulopetismo na Bahia já fez a onda vermelha de 2006 a 2014, e administrar esse legado é uma tarefa mais simples do que iniciar um novo ciclo.
Isso explica as razões pelas quais não apenas Bolsonaro estaria tenso com a chegada de Lula num processo eleitoral. O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, também tem razões para se preocupar. Sem Lula, o representante do neocarlismo nadava em um mar revolto, mas com capacidade de transformar em águas tranquilas. A simples possibilidade de Lula estar num palanque como candidato (em 2006 e 2010 isso foi decisivo por essas bandas) é motivo suficiente para transformar a eleição de 2022 numa tempestade.
É lógico que os aliados de ACM Neto vão tender a minimizar os impactos de Lula nesse processo. Assim como os aliados de Wagner e Lula vão amplificar a capacidade do petista em aglutinar apoios e votos para o governo e para a candidatura à presidência. Porém, independente dessa inflação, não é preciso ser vidente para saber a relevância do ex-presidente e como uma reedição da chamada onda vermelha da primeira década dos anos 2000 não pode ser descartada.
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