por Bruno Leite
Foto: Reprodução / Instagram
Até esta terça-feira (20), mais de 378 mil histórias foram encerradas por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil. Uma delas foi a da museóloga e mestra em Museologia Melissa Santos, de 28 anos, no último dia 11 de abril. Escritora de "Palavras de uma mulher preta", biografema inconcluso que agora mobiliza familiares em uma campanha para publicação, ela integrava o grupo "Conexões Escritas", que viabiliza a edição de livros semelhantes ao seu.
A obra, explica o irmão de Melissa, Alan Santos, aborda as dores, os amores e os sentimentos da vida da jovem, "coisas que às vezes passam desapercebidas" no cotidiano, mesmo com a proximidade. "É um material que tem uma conexão com a vida de Melissa enquanto jovem, enquanto mulher, negra", justifica Alan.
Para ele, publicar os escritos de sua irmã seria como perpetuar a memória dela, "de modo que também crie um sentimento nas outras pessoas e elas possam ver que não estão sozinhas". Além dos escritos, Melissa deixou uma outra maneira de se expressar como legado que deve compor o futuro livro: vários desenhos e outras ilustrações.
Por acreditar em uma linguagem baseada em desenhos, aliás, mas desta vez nas paredes,escolheu como objeto de sua pesquisa e no mestrado o grafite feito por mulheres. Nele, além de estudar essa perspectiva gráfica, propôs também a criação de um museu virtual. "É um trabalho que tem uma contribuição para a cultura como um todo e também para a cultura hip-hop", descreve.
"Palavras de uma mulher preta" foi o segundo livro concluído do projeto coletivo de autores que Melissa integrava junto com Alan. Surgido há pouco mais de seis meses, a ideia foi a de juntar pessoas que antes de integrar o grupo tinham uma atividade constante de escrita, mas não tinham perspectiva alguma de publicação.
"Estávamos empolgados dentro do grupo porque tinha se formado uma 'fila' de quem ia publicar primeiro e ela havia despontado", comenta o irmão, que por ocupar esse espaço na história de Melissa, era o primeiro a ter contato com a produção dela.
Hoje o grupo está abalado com a perda da escritora e museóloga, mas conversas entre os autores já apontam para outra direção: a possibilidade de publicação da sua dissertação de mestrado.
Com cerca de 50% da meta de arrecadação da campanha atingida (clique aqui e contribua), a expectativa é que "Palavras de uma mulher preta" seja publicado no dia em que Melissa Santos completaria 29 anos, em 24 de agosto.
"Nesse processo, estamos descobrindo amigos dela que a gente nem fazia ideia. Participações dela como a que ela tinha em uma revista digital, em que atuava como colaboradora, que a gente nem sabia. Estamos percebendo que ela era uma menina extremamente habilidosa, inteligente e muito querida. Os amigos abraçaram de uma forma fantástica. É gratificante a gente saber que ela plantou a semente do amor dela em muitos corações, e tão nova", finaliza Alan Santos, revelando que o projeto é como um alento após a perda da jovem.
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