Não eram só as prisões processuais que eram usadas para forçar investigados a delatar. Denúncias também se tornaram instrumentos de pressão pelos procuradores da 'lava jato". Conversas expostas pelo site The Intercept Brasil divulgadas neste sábado (19/10) mostram que o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima sugeriu apresentar uma denúncia contra o doleiro Adir Assad "para trazê-lo para a colaboração".
Procurador aposentado quis denunciar Adir Assad para fechar acordo de delação
Quando trabalhava na "lava jato", Santos Lima era o responsável pelo programa de leniência e era um dos principais negociadores da força-tarefa. Hoje, aposentado do Ministério Público, ele faz compliance para empresas.
Segundo as conversas divulgadas pelo Internecpt, Santos Lima falou de usar a denúncia como instrumento de pressão em resposta a uma mensagem de Deltan Dallagnol. Ele havia sugerido que Adir Assad poderia desencadear uma nova fase da "lava jato" e o procurador Roberson Pozzobon concordou. E acrescentou que o doleiro poderia abrir "várias novas frentes".
Foi aí que Santos Lima teve sua ideia: "Talvez seja útil uma denúncia contra ele para trazê-lo para a colaboração. Mas precisamos conversar com o Russo e fazer denúncias pequenas e estratégicas".
As mensagens foram trocadas no dia 30 de julho de 2015. Naquele mesmo dia, a advogada Beatriz Catta Preta, que havia negociado diversos acordos de delação com a "lava jato", disse em entrevista à TV Globo que estava renunciando às procurações e deixando o Brasil. Vinha sendo ameaçada por integrantes da CPI da Petrobras.
Nos dias anteriores, a "lava jato" havia começado a investigar contratos internacionais da estatal, a partir da prisão de Jorge Zelada, ex-diretor de internacional da Petrobras.
O deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), então presidente da Câmara, havia sido delatado por Julio Camargo, presidente da Camargo Corrêa. Segundo ele, Cunha recebera US$ 5 milhões de propina, referente a contratos de construção de navios-sonda.
E a "lava jato" havia acabado de deflagrar a parte da operação que investigou os contratos da usina nuclear de Angra 3. Dessas investigações, saíram delações que implicaram o ex-presidente Michel Temer, mas que foram engavetadas pelos procuradores, conforme reportagem do El País Brasil.
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