por Fernando Duarte / BN
A hiena que não apareceu no vídeo publicado pelo presidente Jair Bolsonaro no Twitter segue com chances muito claras de implodir o governo: Fabrício Queiroz. O ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro é uma bomba-relógio e os áudios vazados recentemente apontam que Queiroz sabe demais e seguiu com interlocução junto ao clã, mesmo após a deflagração da investigação sobre movimentações financeiras suspeitas. E a emergência desses diálogos envolvendo o amigo da família encontrou a cortina de fumaça perfeita: um vídeo estapafúrdio que coloca em xeque as instituições democráticas no país.
Após muita repercussão negativa, o morador do Palácio da Alvorada resolveu se manifestar. Pediu desculpas e preferiu não culpar ninguém pela barbeiragem pública no Twitter. Foi a senha para se confirmar que o presidente da República não consegue sequer controlar o que é publicado nas próprias redes sociais. Não que tivéssemos a expectativa de que Bolsonaro pai estivesse à frente dos perfis, afinal a “autenticidade” ali é muito mais pensada do que a simples divagação de petardos, habitual no contexto atual. Da originalidade desse “personagem” nasceu o presidente da República. Daí surgem as preocupações.
Bolsonaro só se desculpou ao Supremo Tribunal Federal (STF), apenas uma das instituições atacadas pelo vídeo constrangedor, apagado horas depois de postado. Como preferimos acreditar que temos um chefe de Estado, a expectativa era que houvesse alguma reparação. Nada. A vida seguiu normal, como se achaques a outras figuras da democracia fossem parte do cotidiano.
Não devem ser. É um erro naturalizar qualquer tentativa de subverter adversários em inimigos apenas para justificar quebras da ordem institucional. É isso a que se propõem figuras do entorno do ocupante do Planalto. Uma hora será necessário dar um basta.
Não devem ser. É um erro naturalizar qualquer tentativa de subverter adversários em inimigos apenas para justificar quebras da ordem institucional. É isso a que se propõem figuras do entorno do ocupante do Planalto. Uma hora será necessário dar um basta.
O tom debochado com que Queiroz seguiu falando sobre nomeações e exonerações nos gabinetes da família Bolsonaro, a “vontade” de organizar o PSL para que abrigasse melhor o clã presidencial ou a simples discussão sobre o futuro da ex-babá Cileide se tornaram interesse público a partir do momento em que Jair chegou à presidência. Não dá para ficarmos assistindo tudo isso sem se questionar efetivamente as intenções de quem quer que seja. Afinal, não há nenhum santo no processo político brasileiro e, definitivamente, alguém que sobreviveu por mais de 30 anos no parlamento e alçou toda a família a cargos públicos está muito longe de ser algo diferente do que um santo de pau oco.
A cortina de fumaça com o vídeo do leão com as hienas, no entanto, logrou seu êxito estratégico. Após ele, pouco se falou sobre o eventual comprometimento da família Bolsonaro frente aos áudios divulgados em que Queiroz aparece tratando de assuntos da coxia da dinastia. É importante reconhecer que esse uso das redes sociais é bem feito, ainda que provoque um efeito nefasto na democracia. E olha que, ao lado do patriota conservador, vimos o Brasil minimizar a soberania das urnas na Argentina, o país deixar de exigir visto para países como China, Índia e Qatar e elogios eloquentes a um príncipe sanguinário da Arábia Saudita. A simulação de savana africana é, então, um dos menores dos nossos problemas.
Este texto integra o comentário desta quarta-feira (30) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM e Valença FM.
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