por Fernando Duarte
Uma semana após parte do conteúdo do livro “Nada menos que tudo” começar a circular, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, segue presente nas rodas de conversas políticas e jurídicas. Não é pouco. Quase homicida e quase suicida, Janot conseguiu destruir a imagem construída em torno de si de maneira acachapante e, provavelmente, sem retorno ao patamar de respeito esperado para alguém que passou por um dos cargos mais relevantes no ambiente jurídico brasileiro. Ao final, houve o assassinato de uma reputação.
Desde que o assunto tomou corpo, é impossível não se perguntar se Rodrigo Janot não tinha um amigo para dizer a ele o quão absurdo era falar em público que gostaria de matar o ministro Gilmar Mendes. Nas profundezas mais recônditas de cada um, a figura de linguagem “matar” alguém é tão presente que, se fosse levada a sério, teríamos uma horda de assassinos convivendo conosco diariamente. O que o ex-PGR falou não chega a ser crime, mas deveria provocar, no mínimo, repulsa do entorno e um novo fenômeno editorial. Pelo andar da carruagem, não vai acontecer nenhuma das duas coisas.
A maioria da população até seguiu a tendência de ficar assustada com a declaração de Janot. No entanto, nos orbes bolsonaristas, houve quem reclamasse do ex-PGR não ter completado a missão de “eliminar” Gilmar Mendes. O exemplo de maior repercussão foi de deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que manifestou “solidariedade” a Janot. Após as inúmeras reações negativas, a monarquista (?) apagou a publicação nas redes sociais e sugeriu que foi “infeliz”. No entanto, ela está longe de ter sido a única a falar asneiras ao endossar as ideias malucas do antigo procurador-geral.
A expectativa era, então, converter o burburinho em altas vendas. É certo que o otimismo em torno do lançamento é grande, porém as mesmas redes sociais que potencializaram o alcance da obra, com milhares de compartilhamentos do material de divulgação, criaram um monstro para a editora: o livro vazou integralmente no WhatsApp e há uma tendência geral em diminuir a vendagem a partir disso. Uma pena para os autores, que toparam colocar no papel as possíveis memórias de Janot.
O ex-PGR ainda vive com esse inferno que deve ter se tornado a vida dele. Alvo de busca e apreensão, criticado duramente em meio à classe que pertenceu, impedido de se aproximar do local onde trabalhou por quatro anos e ainda obrigado a manter distância de qualquer um dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Pelo que veio a público, Janot não demonstrou nenhum tipo de preocupação. Parece que resolveu chutar o pau da barraca e arremessar a própria história para os leões julgarem.
Quando a tempestade finalmente passar, tem uma coisa que precisamos observar. Não é possível que o ex-procurador-geral da República não tenha um amigo na vida para dizer que conjecturas como essa, de um plano que envolve homicídio e suicídio, deveriam ficar restritas a uma mesa de bar. E olha que Janot foi visto em mais de uma oportunidade praticando levantamento de copo. Ou talvez ele estivesse exatamente entorpecido quando decidiu revelar essa história. Será que isso é contado no livro?
Este texto integra o comentário desta sexta-feira (4) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM e Valença FM.
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