"Eu estava com medo": o dilema do médico excomungado por fazer aborto em garota de 9 anos
Ed Wanderley
O obstetra Olímpio Moraes, médico pernambucano que foi excomungado após realizar um aborto em uma menina de nove anos
Diante de inúmeras câmeras, a menina era levada pela mãe por uma peregrinação entre unidades de saúde e delegacias. Aos nove anos, era franzina, pesava 36 kg e media 1,32 m. Estava grávida de gêmeos.
A gestação era fruto do abuso que sofria desde os seis anos pelo padrasto na casa em que vivia, em Alagoinha, no agreste de Pernambuco, a 232 km do Recife.
Sem entender direito o que acontecia, a garota havia reclamado de dores na barriga. Era março de 2009. Seu nome não será revelado para preservá-la.
Pela TV, o obstetra Olímpio Moraes acompanhava as notícias. Com o telefone em mãos, buscava informações sobre o caso.
Profissional do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), segunda instituição a realizar abortos legais no país a partir de 1996, Moraes imaginava que ali recairia o desfecho da violenta história.
Não suspeitava, no entanto, o que o futuro lhe reservava: ser conhecido como o único médico excomungado duplamente pela Igreja Católica por questões reprodutivas.
No Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, o Imip, vítima e mãe foram informadas da possibilidade da interrupção legal da gravidez, prevista em lei quando há risco à vida da gestante.
Vigília de religiosos e carro escondido
Grupos religiosos passaram a fazer vigília em frente ao hospital. Ainda assim, a mãe optou pela intervenção.
"Pouca gente sabe dos bastidores. A Santa Casa tinha ligação direta com o Imip, e a direção, em um dado momento, cedeu [para fazer o aborto]. Mas o procedimento não poderia ser feito lá. Liguei e ofereci fazer aqui no Cisam. Disse que mandaríamos um carro escondido e ela viria pelos fundos do hospital sem ninguém saber", conta ele, hoje com 56 anos. Leia mais em: https://noticias.bol.uol.com.br
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