Em caso que veio à tona em setembro, o jovem Vinicius Loures, 23 anos, que fraudou o sistema de cotas raciais para medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cancelou a matrícula após 50 dias de aulas. Foto: Reprodução
Branco e loiro, ele afirma que se sentia incomodado e preterido desde o início do período letivo. "Eu sabia que estava errado, sentia no olhar de pessoas que não me conheciam e não se aproximavam porque eu era o 'manezão' que burlou as cotas, o sem-caráter", afirma ele, que atribui a repercussão do seu caso por ele ser "ex-modelo, loiro do olho azul". Ele se inscreveu no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) antes de anular a matrícula. Vinicius se interessou pela medicina em 2015, após descobrir um tumor no cérebro, durante um check-up realizado após o capotamento de um carro. "Senti uma gratidão muito grande pela médica que me operou. Foi muito louco. Isso me fez querer que as pessoas sentissem isso por mim", disse. Após o início do curso, porém, declarou ter percebido que errou. "De certa forma entendi, porque eu fiz uma coisa erradíssima e isso voltou pesado. Se você é um negro que sofre todas essas situações preconceituosas na sociedade e alguém vai e rouba sua vaga, é algo que, no mínimo, gera raiva”. O jovem também afirmou ter percebido a desigualdade racial após a entrada na faculdade. "Mas a partir do momento que eu comecei a ocupar o espaço de um negro, passei a perceber essa discrepância de forma muito mais nítida”, disse, para completar: "Assim, na faculdade, os negros não chegam a 5%; na academia, que nem é dessas 'topzeira', a maioria é branca, as pessoas negras são a faxineira, o segurança". Vinicius relatou que após fechar a matrícula, viu uma catadora de latinhas negra na rua e se questionou se o filho dela teria condições de fazer medicina. "Fiquei me vendo ocupando o lugar de uma pessoa assim, me fez muito mal, mas esse é um peso que eu não tenho mais que carregar".
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