Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP * Bacharel em direito
Para rebater aos críticos a gastos com a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil, as autoridades e os especialistas esportivos rebatiam com a justificativa de que todos os gastos exorbitantes seriam compensados com as obras de infraestrutura que ficariam. Chamavam genericamente de “legado da Copa”. Só se falava nisso. Os contrários mais incisivos eram tachados de antipatriota. Brasileiro queria Copa a qualquer custo.
Em obediência cega a toda poderosa FIFA, os estádios foram construídos ou reconstruídos. Nada do que existia servia para o padrão-FIFA.
Nos períodos em que eram realizadas as ações da FIFA, o Brasil angelicalmente abria mão de sua soberania. O que era exigido era cumprido.
Dentre as várias exigências, destacaram-se a permissão da venda de bebidas alcoólicas nos estádios, antes terminantemente proibida. Até uma lei para dispensar as obras de licitações foi aprovada. Essas obras talvez ainda sejam alcançadas por outra operação Lava-Jato.
Além da submissão nacional, nos estados e nos municípios moradores foram retirados abruptamente do caminho dos estádios. Patrimônio tombado deixou de ser. Tudo foi praticado sob o manto do “legado” que ficaria.
Existem outros “legados” de que somos vítimas de nosso jeito cultuado de ser.
Tem-se o “legado do faz de conta”. Os órgãos de fiscalização são o exemplo principal dele. Não fiscalizam nada; quando fiscalizam, a corrupção impera.
Após as tragédias anunciadas acontecerem, aí vem o festival de desculpas. O argumento principal é de que aquela instituição, seja qual for, não tinha autorização para funcionar ou atuar. Se não tinha, alguém deveria ter impedido de atuar; se tinha, alguma grana sempre fala mais alto do que as vidas perdidas. É assim desde o acidente com o Bateau Mouche no Rio de Janeiro, com acidentes de embarcações nas águas do Norte e com as represas de Minas Gerais.
Após as tragédias anunciadas acontecerem, aí vem o festival de desculpas. O argumento principal é de que aquela instituição, seja qual for, não tinha autorização para funcionar ou atuar. Se não tinha, alguém deveria ter impedido de atuar; se tinha, alguma grana sempre fala mais alto do que as vidas perdidas. É assim desde o acidente com o Bateau Mouche no Rio de Janeiro, com acidentes de embarcações nas águas do Norte e com as represas de Minas Gerais.
Depois vem o “legado do não tem jeito”. Desde criança ouço medidas tomadas para agilizarem a Justiça brasileira. A lei e os juizados de pequenas causas; as eternas reformas constitucionais e a aprovação de novos códigos. Tudo para dissimular que a Justiça é lenta porque interessa a muita gente. Cadê o processo eletrônico?
O “legado político da desfaçatez”. O presidente da Câmara, segundo a suceder a presidente da República, diz que não tem conta na Suíça. Descobre-se que tem mais de uma e há muito tempo. Não é dono, só beneficiário. Quem não queria ser reserva assim! Depois foi um empréstimo de milhões sem nenhum documento. O filho do falecido teria depositado; não depositou. Não teria movimentado as contas; movimentou. E continua presidente; apoiadíssimo pela Casa representativa do povo brasileiro. E assim segue nosso hábito de construir “legados”. As mortes diárias com balas perdidas no Rio de Janeiro, a falta de energia a cada chuva em São Paulo e tantos outros.
De concreto do “legado da Copa” ficou o esqueleto do trem de Cuiabá, os elefantes brancos dos estádios consumindo milhões na manutenção sem retorno algum...
Em São Paulo, como “legado” da Copa de 2014 ficou uma mensagem em inglês nos metrôs avisando a próxima estação - “néquisti istechion” - e a certeza de que a presidente Dilma Rousseff nunca mais irá numa abertura de um grande evento.
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