A crise de 2008 não foi fácil pra ninguém. Alguns sofreram mais (Grécia), alguns sofreram menos (Brasil) e alguns até conseguiram escapar sem encolher mesmo estando no seu epicentro (Polônia).
Só a economia da Austrália, no entanto, detém o privilégio de estar livre de uma recessão há nada menos do que 24 anos - um caso único.
A última vez que o PIB do país encolheu foi em 1991. Na época, o mercado financeiro ainda se recuperava do colapso das bolsas internacionais nos anos 80 e de uma década de desregulação e bolhas de ativos.
O aumento dos juros para conter a inflação também contribuiu para "a recessão que nós precisávamos ter", segundo Paul Keating, então Secretário do Tesouro.
Na época polêmica, sua declaração não impediu que ele se tornasse logo depois primeiro-ministro - e no longo prazo, se mostraria ainda mais acertada.
Nos anos 90, a inflação cedeu e nunca mais voltou com força. Enquanto isso, a China botava o pé no acelerador e demandava cada vez mais commodities, cujos preços dispararam e estimularam o crescimento em vários países (inclusive o Brasil). Poucos, no entanto, estavam tão próximos geograficamente e preparados para se beneficiar como a Austrália, especialista em mineração.
Apesar do cenário benigno, o país não abriu mão de uma gestão fiscal austera e de uma agenda de reformas. Hoje, tem uma das maiores expectativas de vida e um dos melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) do mundo.
Só que a China não é mais a mesma, e a Austrália está sofrendo as consequências. O pico de investimento já passou, o preço do minério de ferro está em patamares não vistos há 5 anos e a população está envelhecendo. Divulgado ontem, o crescimento do 3º trimestre em relação ao anterior ficou em 0,3%, menos da metade do previsto.
O enfraquecimento do dólar australiano, no seu valor mais baixo em 4 anos, favorece o turismo e a competitividade, mas só até certo ponto. Tony Abott gosta de dizer que será "o presidente da infraestrutura", mas não há aumento de investimento público capaz de compensar a queda do investimento privado, ainda mais em um cenário de queda de receitas.
“A transição econômica na Austrália de um boom de recursos para uma recuperação de leste a oeste empacou", diz o Morgan Stanley, que também espera um aumento forte do desemprego, hoje por volta dos 6%. A maioria dos bancos já prevê novos cortes na taxa de juros, mantida em 2,5% (um nível inédito) desde o meio do ano passado.
A palavra de ordem na economia é "diversificar" para "preencher o buraco" deixado pela mineração - nem que seja só para o país bater, no mínimo, o seu próprio recorde. Fonte: Exame
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