Isabela de Oliveira - Correio brasiliense
A cada ano, 1 milhão de crianças que vivem na África Subsaariana têm malária, doença que ameaça a vida de 3,4 bilhões de pessoas no mundo. O perigo que a enfermidade oferece — 1,2 bilhão de pessoas vivem em regiões do planeta consideradas de alto risco de contaminação — tem exigido trabalho árduo de cientistas na busca por uma solução capaz de combatê-la. Há 100 candidatos a vacina. Entretanto, 60% das pesquisas investigam apenas quatro antígenos contra o Plasmodium, parasita causador da doença. Um estudo publicado na edição de hoje da revista Science apresenta uma estratégia alternativa para atacar o inimigo, e as armas são fragilidades naturais apresentadas por ele.
Entre 2008 e 2009, pesquisadores do Hospital de Rhode Island, ligado à Universidade de Brown, nos EUA, descobriram que crianças de regiões endêmicas, como a Tanzânia, apresentam uma resistência à doença que é praticamente inata. A exposição crônica às picadas do mosquito Anopheles serviu, de alguma maneira, como uma “vacina natural” contra a malária, levando os pequenos a desenvolver anticorpos que atacam uma estrutura particular do Plasmodium, a proteína PfSEA-1, que interrompe o ciclo de contaminação da doença.
A fêmea do Anopheles repassa os parasitas à pessoa que é picada. Demora cerca de 30 minutos para que os intrusos cheguem ao fígado, onde se reproduzem e iniciam uma outra etapa, a esquizonte. Nessa fase, o Plasmodium invade as hemácias, também chamadas de glóbulos vermelhos, e passa a se alimentar da hemoglobina, célula responsável pelo transporte do oxigênio no corpo.
Além de devorar as hemoglobinas, o protozoário se multiplica até que a hemácia chegue ao limite e exploda. Isso permite que o parasita retorne à corrente sanguínea e recomece o ciclo. É aí que a proteína PfSEA-1 atua: sem ela, o Plasmodium é incapaz de romper a célula e permanece preso. Impedir que esse processo tenha sucesso diminui a taxa parasitária do organismo do paciente, evitando que a doença evolua para um quadro mais grave.
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