por Alexa Salomão | Estadão Conteúdo
Um estudo detalhado sobre os ganhos e os gastos das classes C, D e E trouxe um dado novo sobre a classe C, considerada a nova classe média do País: a renda dessa parcela da população não é tão estável quanto se pensa. Na verdade, tanto o valor quanto as fontes de rendimento tendem a mudar, às vezes drasticamente, mês a mês. "Podemos dizer que a classe C é classe média quando dá", diz Luciana Aguiar, sócia diretora da Plano CDE, consultoria especializada em baixa renda, responsável pelo estudo. A pesquisa, encomendada e paga pelo CGAP (sigla em inglês de Consultative Group to Assist the Poor), baseado no Banco Mundial, foi feita com 120 famílias, de 64 comunidades de centro urbanos em quatro capitais - Salvador, Recife, São Paulo, Rio Janeiro. Por causa do número reduzido de entrevistados, a pesquisa não tem valor estatístico. O seu grande diferencial é a profundidade. Os pesquisadores tiveram acesso irrestrito à contabilidade das famílias por seis meses, o que faz com que os resultados tracem uma radiografia fidedigna dos padrões de comportamento dessa parcela da população. "A pesquisa é baseada no que se chama de Diários Financeiros, que acompanham as fontes de receita e os gastos", diz Luciana. O orçamento de todas as famílias pesquisadas variou ao longo dos seis meses. Uma delas atravessou quase todas as classes. Segundo Luciana, isso ocorre porque apenas uma parte da renda é certa - e nem sempre por causa de um emprego com carteira assinada. Aposentadoria, pensão, bolsa família, bolsa carioca e outros benefícios sociais, muitas vezes, são a única parcela fixa da renda. O restante - que não raro responde pela maior parcela do ganho - é coberto por bicos e atividades paralelas, como venda de cosméticos ou fazer salgados para fora. Cristiano Ipaves Lacrose, 36 anos, de Itaquera, na zona leste da capital paulista, convive com essa flexibilidade desde que começou a ajudar o pai, aos dez anos. Microempreendedor, ganha por mês, como ele mesmo diz, "algo entre nada e R$ 5 mil". Para garantir nem que seja um mínimo, aprendeu a fazer de tudo - serviços hidráulicos, elétricos, marcenaria, pintura. Sua mais recente atividade é ser chaveiro em domicílio. "Não dá para adivinhar quando e quanto vai entrar", diz Lacrose. Em casa, quem tem renda certa é a esposa. São R$ 900 como auxiliar de serviços. É dela a conta bancária, que garantiu o empréstimo para os documentos da moto e os dois cartões de crédito, que ele utiliza como fonte de capital de giro. Em um bom mês, a renda familiar passa de R$ 6 mil. Pelos padrões de ganho no País, a família, com uma filha, vai ao topo da pirâmide. Encosta na classe A, alta renda. Em um mês ruim, porém, os R$ 900 da esposa os colocam no piso da classe C, por pouco, não escorrega para a D. Como a renda muda, a família Lacrose transita entre as classes C, B e A. No longo prazo, a nova classe média precisa acumular ativos - educação, qualificação profissional, acesso ao sistema financeiro, um espaço para empreender, já que a maioria não tem trabalho formal. "A questão que se coloca é como ajudá-la nessa transição." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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