Confira entrevista concedida pelo sociólogo Maurício Murad a Ciro Barros, da Agência Pública, na qual alerta para os casos de morte ligados ao futebol neste ano, que podem chegar a 22, metade do que foi registrado em uma década.
A violência no futebol brasileiro já bateu o recorde em 2012. Nos primeiros nove meses do ano, analisados pelo sociólogo carioca Mauricio Murad, foram 17 mortes comprovadamente relacionadas a confrontos entre torcidas ou de torcedores com a polícia e cinco inquéritos ainda não concluídos que podem fazer esse número subir para 22.
Murad é doutor em ciência do desporto pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e há duas décadas dedica-se ao estudo da violência no esporte. Junto ao núcleo de sociologia do futebol da UERJ, fundado por ele em 1990, o sociólogo produziu um levantamento de casos de morte por conflitos relacionados ao futebol entre 1999 e 2008, e documentou 42 óbitos em decorrência desse tipo de confronto. O balanço está publicado no livro “Para entender a violência no futebol”, lançado este ano pela editora Benvirá. Daí a preocupação com os números de 2012: estamos perto de atingir em um ano a metade das mortes registradas em uma década.
“Isso acontece porque as autoridades brasileiras, o poder público, as instituições não reagiram à altura”, argumenta o sociólogo. Murad defende a criação de um plano de combate à violência no esporte com articulação nacional entre várias instituições públicas, como Ministério do Esporte e da Justiça, os Tribunais de Justiça, o Ministério Público e as polícias Civil e Militar. A atuação do plano, explica Murad, baseia-se em três pilares: repressão, prevenção e reeducação a exemplo de modelos de sucesso aplicados em países como a Inglaterra, a Itália e a Argentina.
O pesquisador critica o planejamento da Copa de 2014. “São muitos equívocos, mas muitos e muitos mesmo, no planejamento da Copa do Mundo. E um deles é esse. Achar que basta você planejar asegurança para o momento do evento”, argumenta.
Agência Pública – Como se explica o fato de atingir esse ano mais da metade de mortes do que tivemos em uma década relacionadas a conflitos no futebol?
Maurício Murad – Uma constatação é que esse quadro piorou. Agora, por que piorou? Porque as autoridades brasileiras, o poder público, as instituições não reagiram à altura. Na década que foi pesquisada por mim, esses números chegaram a 42 mortes em dez anos e em uma escala crescente, porque nos primeiros cinco anos a média era de 5.6 mortes decorrentes da violência do futebol por ano, nos dois últimos anos dessa década a média já passou para sete. É um aumento extremamente preocupante. Mas não houve reação das autoridades brasileiras a não ser no plano da repressão, principalmente dentro dos estádios, apesar de o volume de violência e de morte ser muito maior fora dos estádios. Mas não houve prevenção, medidas de inteligência para desmonte dos grupos vândalos e delinquentes infiltrados nas torcidas organizadas. Embora o Brasil tenha leis e uma capacidade operacional bastante razoável, nós não temos de fato um plano, uma ação, nem mesmo vontade política por parte das autoridades no sentido de coibir esse horror que é a violência em torno do futebol. E mais preocupante do que esse aumento da violência, é a inoperância das autoridades públicas. Não é nenhum favor enfrentar esse problema, é uma obrigação constitucional. Tudo em http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/58471/entrevista+numero+de+mortes+relacionadas+ao+futebol+ja+bateu+recorde+em+2012.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário