Executivos de primeiro escalão da Jequiti, uma das 43 empresas do Grupo Silvio Santos, passaram boa parte de fevereiro batendo à porta de bancos. O objetivo era conseguir um empréstimo para alongar o perfil de endividamento da fabricante de cosméticos. Até sexta-feira, haviam conseguido 30% do que buscavam.
Ainda assim, aceitando pagar juros altos para o porte da companhia (entre 1,40% e 1,90% ao mês) e mudando as garantias oferecidas aos credores: em vez de estoque de produtos, imóveis que pertencem ao Grupo.
Esse caso ilustra as dificuldades que o império do apresentador encontra para se financiar após a crise do Panamericano. Mesmo considerada a “joia da coroa” do Grupo e avaliada em R$ 800 milhões, a Jequiti tem suado para conseguir crédito.
O Grupo Silvio Santos disse, por meio da assessoria de imprensa, que “está obtendo crédito normalmente”. “Essas informações são pura especulação.”
O Grupo Silvio Santos disse, por meio da assessoria de imprensa, que “está obtendo crédito normalmente”. “Essas informações são pura especulação.”
O Panamericano teve um rombo de R$ 4 bilhões em decorrência de fraudes contábeis promovidas pela administração que comandou o banco até o início de novembro. No fim de janeiro, a instituição foi vendida para o BTG Pactual por R$ 450 milhões. Mas o negócio só saiu depois de o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) arcar com prejuízo de R$ 3,4 bilhões.
Em outras palavras, Silvio Santos deu um calote no Fundo, criado e mantido pelos bancos com objetivo de cobrir depósitos de correntistas em caso de quebra de alguma instituição. Em conversa com o Estado ao fim das negociações que culminaram na venda do Panamericano, um banqueiro já avisava: “Vingança é um prato que se come frio.”
As razões. Não é só por questões emocionais que o Grupo enfrenta obstáculos. Afinal, banqueiros costumam ser racionais em suas decisões. O Estado ouviu sobretudo dois argumentos para explicar a mão mais fechada do que o normal com as empresas do apresentador.
O primeiro deles é a falta de governança e transparência no Grupo. “Se o Panamericano, que tem capital aberto e é fiscalizado pelo Banco Central, conseguiu promover uma fraude daquele tamanho, como confiar em empresas de capital fechado?”, indaga um banqueiro.
“As empresas não têm boa gestão. O estilo paternalista e amigável de Silvio é pouco profissional e o mercado é muito competitivo”, emenda outro executivo.
O segundo argumento mais citado é uma possível dívida de Silvio com a Receita Federal. Segundo o entendimento de alguns tributaristas, o empresário poderia ser obrigado a pagar até R$ 1 bilhão para o Fisco por causa da maneira como o Panamericano foi salvo. “Há um risco tributário envolvendo o Grupo”, afirmou outro profissional.
Levando em conta só as maiores empresas (SBT, Jequiti e a varejista Lojas do Baú), o endividamento total do Grupo supera R$ 600 milhões. Cerca de 60% vencem em até um ano – o que se considera curto prazo. “Eles precisam alongar a dívida, estão com muita pressão no fluxo de caixa”, diz um banqueiro.
A Jequiti iniciou seu périplo pedindo R$ 80 milhões para pagar em 4 anos. Baixou para R$ 50 milhões e, segundo informações de mercado, havia conseguido R$ 15 milhões até sexta-feira. A dívida total da empresa somava R$ 220 milhões no final de janeiro.
Fontes ligadas ao empresário afirmam que “muita gente” quer puxar para baixo o valor dos ativos do Grupo, especialmente do Baú. A empresa varejista está à venda e estaria negociando com as Casas Bahia e o grupo mexicano Elektra.
Do Estadão
Do Estadão
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