Por Marcelo Toledo / Folhapress
Foto: Ricardo Stuckert / PR
Em aceno ao agronegócio, setor com o qual enfrenta dificuldades, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou um plano para capitalizar produtores rurais endividados.
O anúncio foi feito neste domingo (28) na cerimônia de abertura da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), principal feira agrícola do país e exemplo de problemas de interlocução do governo com o agro.
A cerimônia voltou a ocorrer em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), depois de ter sido cancelada em 2023 após o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ter se sentido "desconvidado" ao ser informado pela organização que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria no ato.
A saída encontrada para este ano foi a de alterar o dia da abertura, que pela primeira vez ocorreu num domingo, e sem público. Foi restrita a autoridades, expositores e imprensa.
O reencontro foi marcado pela presença em peso do governo Lula, que escalou quatro ministros, entre eles Fávaro, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), para a solenidade, vista por integrantes da organização e de entidades participantes como uma proposta de pacificação com o setor. Em vários momentos, ministros foram aplaudidos em seus discursos.
O plano do governo, que conta com participação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), prevê uma linha de crédito flexível, com juros atrativos, carência para iniciar o pagamento e prazo de cinco anos para quitação.
No sábado (27), em Uberaba (MG), Fávaro já tinha afirmado que o problema de caixa do setor é cíclico e que as dificuldades dos produtores seriam repactuadas.
"Pela primeira vez na história, antes de terminar a safra, o governo, por determinação do presidente Lula, decidiu que não podemos deixar os produtores que tiverem dificuldade por falta de preço, de renda, por conta de intempéries climáticas, caírem na inadimplência", afirmou o ministro na Expozebu, principal feira pecuária do país, organizada pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu).
Fávaro disse que o objetivo é dar fôlego e tranquilidade aos produtores para "continuar fazendo esse país produzir, prosperar". "Tenho certeza que a arroba [do boi] vai subir, estamos abrindo mercados, estamos melhorando o consumo."
"Todos os produtores com dificuldade para saldar seus compromissos estarão amparados para não cair na inadimplência", disse o ministro da Agricultura.
Questionado pelos jornalistas sobre o "desconvite" do ano passado, Fávaro afirmou que o país saiu da eleição de 2022 muito dividido e com intolerância e que o episódio não teve "nada de pessoal".
Os únicos momentos de embate foram protagonizados por Fávaro, o deputado Pedro Lupion (PL-PR), presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), e o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar).
Lupion criticou as invasões de terras no Abril Vermelho, como tem feito em seus últimos discursos, e Teixeira respondeu em seu discurso que "o presidente Lula quer paz no campo".
Fávaro, também em seu discurso, criticou a diplomacia do governo anterior, de Bolsonaro, e disse que foi necessário restabelecer na atual gestão as relações com países importantes, como Argentina e China.
AUSÊNCIA DE TARCÍSIO É CRITICADA NOS BASTIDORES
Se por um lado o governo federal desenvolveu o plano para socorrer produtores rurais, por outro o governo paulista, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Bolsonaro, anunciou que elaborou um pacote de R$ 1,4 bilhão para o agronegócio.