Por Humberto Pinho da Silva
Recentemente, o Papa Francisco, disse que ficava com “ pele de galinha” só de pensar que alguns sacerdotes podem ser pequenos monstros, visto faltar-lhes formação que lhes permita contactar com os outros, como pais, irmãos, companheiros de jornada, segundo revela “ La Civilta Cattolica”.
A “pele de galinha” do Papa e a falta de preparação para lidarem com o semelhante, fez-me recordar casos, que presenciei ao longo da vida:
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Estava a participar na missa, numa Igreja da Diocese do Porto, quando, como preambulo da homilia, o sacerdote, virando-se para a assembleia, declara:
- No altar não deve haver flores, velas, objetos, como está neste. Não sou pároco daqui, por isso é só um reparo.
O comentário, dito em público, desagradou a quem, por gentileza, encarrega-se de enflorar o altar. Além der censura, discreta, ao padre da paróquia.
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Havia coro, de dezenas de pessoas, ensaiado por modesto maestro, que estava a fazer furor.
Cheguei a ouvi-los na igreja de Nª Senhora da Esperança, no Porto, em missa rezada por alma dos antigos associados dos Amigos do Porto.
Certa ocasião, estava o maestro entusiasmado, e não percebendo que o sacerdote queria prosseguir a celebração, continuou o cântico.
Vira-se o abade. Olha para o coro, e alteando a voz, exclama:
- Acabe lá com a cassete!
Resultado: o maestro desistiu, e o coro desapareceu.
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Certa vez - foi nos anos sessenta, - estando com meu pai, este, resolveu assinar a “ Voz de Fátima”, para ajudar o jornalzinho.
Entramos na redação. Sentado, junto a secretária havia um padre ainda jovem.
Mal entramos, perguntou:
- O que é que vossemecê quer daqui?!
Ao que meu pai respondeu prontamente:
- Já não quero nada…
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Na década cinquenta, numa freguesia nortenha, o abade pregou a devoção da Medalha Milagrosa. Recomendou que todos deviam ter uma, informando que no final da missa fossem ter com ele à sacristia.
O mulherio correu em massa. O abade ao ver tanta gente, gritou em voz grossa:
- Desampare-me o aído.
E brincalhão que estava perto da porta da rua, exclamou:
- Deixem o aído para o Senhor abade! …
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Agora, uma, ocorrida durante almoço, que pastor evangélico me ofereceu:
A esposa, ultimava os últimos preparos, na cozinha, enquanto a filha, de treze anos, punha a mesa.
Inexperiente, atrapalhada, não atinava com os talheres.
O pai, de cara fechada, assistia a tudo e repreendia:
- Também quero ver o que vais fazer?!
Vermelha, como tomate, atarantada, a menina chorava. As lágrimas escorriam-lhe pela face, como duas bicas, e o pai:
- Não são esses. Vai buscar outros….
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Outrora ia-se para o seminário para estudar de graça. Ser padre dava classe e prestigio.
Os meninos ficavam cultos, mas raramente educados. Agora as vocações, na Igreja Católica, são escassas, mas mais sinceras
Ao invés, em alguma Igrejas Evangélicas e principalmente, seitas, não faltam vocações, pelo menos enquanto receberem remunerações principescas…
Conheci pobre homem, pastor de igrejinha, em Custóias, que lamentava-se da má sorte, porque amigo, cozinheiro de profissão, conseguiu pastorear, recebendo seis mil escudos, em época que metade já seria muito bom para licenciado.
Para finalizar, a declaração, publicada numa revista evangélica, de pastor, ao saber que recebeu chamado para trabalhar nas missões:
- Aceitei, porque sempre ganho para comprar casa na minha terra…
Pela sinceridade…tem o meu aplauso e perdão.