por Felipe Bächtold | Folhapress
O senador do PDT de Rondônia Acir Gurgacz foi condenado à prisão por crimes contra o sistema financeiro pelo Supremo Tribunal Federal em fevereiro e mesmo assim decidiu se candidatar ao governo do estado, apesar de ter ficado sujeito à Lei da Ficha Limpa.
Em agosto, recebeu de seu partido R$ 1 milhão do fundo eleitoral, mantido com recursos públicos, para a campanha. Na última terça-feira (25), o STF determinou que ele começasse já a cumprir a pena de quatro anos e meio de prisão.
O deputado federal João Rodrigues, de Santa Catarina, está condenado a cinco anos e três meses de prisão por dispensa irregular e fraude a licitação, pena que já passou a cumprir neste ano. Após idas e vindas, o Supremo determinou no início de setembro que ele voltasse a permanecer no regime semiaberto.
Poucos dias antes, o PSD, seu partido, destinou R$ 200 mil do mesmo fundo a ele.
Além de Rodrigues e Gurgacz, 17 políticos que são réus em ações penais no Supremo Tribunal Federal já receberam repasses dos fundos eleitoral e partidário, em uma soma que passa de R$ 23,5 milhões.
Em comparação, o Museu Nacional, que pegou fogo no Rio há um mês, precisava de R$ 520 mil anuais para a manutenção básica.
O levantamento da Folha identificou verbas para réus determinadas pelos principais partidos, como PT, PSDB e MDB. Não há restrições para uso do fundo com esses políticos.
O deputado federal do Amapá Roberto Góes, também do PDT, foi condenado em 2016 a dois anos e oito meses de prisão por irregularidades quando foi prefeito de Macapá. Ele ainda tem recursos pendentes nesse caso e se candidatou à reeleição neste ano. Agora, recebeu R$ 500 mil da direção nacional pedetista.
Um dos maiores repasses foi para o líder do governo Michel Temer no Congresso, André Moura (SE), que recebeu R$ 2,5 milhões do PSC.
Entre os beneficiários que são réus há envolvidos na Lava Jato, como Aníbal Gomes (DEM-CE), com R$ 890 mil, Romero Jucá (MDB-RR), com R$ 2 milhões, e Vander Loubet (PT-MS), com R$ 730 mil.
O emedebista Lúcio Vieira Lima, irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima e réu em ação sobre os R$ 51 milhões achados em um apartamento em Salvador, foi agraciado com R$ 1,5 milhão pela direção nacional do MDB. Ele tem adotado "Lúcio" como nome de campanha, omitindo o sobrenome.
Todos negam as acusações na Justiça.
Os réus com campanha abastecida por recursos públicos são numerosos porque em sua maioria são congressistas, que vêm sendo privilegiados pelos partidos na distribuição de recursos. As cúpulas partidárias consideram que os nomes já conhecidos têm mais viabilidade eleitoral e destinam mais dinheiro a quem já tem mandato.
Esse tipo de situação acontecia em menor intensidade em eleições anteriores, quando era permitida a doação de empresas. No ano passado, o Congresso criou um fundo de R$ 1,7 bilhão de dinheiro público para bancar a campanha.
Antes de o ex-presidente Lula ter sua candidatura à Presidência barrada, em agosto, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que pediria a devolução de recursos públicos gastos com candidatos atingidos pela Lei da Ficha Limpa. O PT destinou R$ 20 milhões do fundo especial para a candidatura Lula.
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