Hikikomori (Vivement Lundi/Blink Productions/Télénantes/TVR/Tébéo/Tébésud/Reprodução)
Em uma sociedade de muita exigência e meritocracia como a japonesa, deixar os estudos ou não conquistar o melhor emprego pode significar para muitos jovens a entrada em uma vida de ostracismo, da qual pode ser muito difícil sair. Estimativas apontam que quase um milhão de pessoas permanecem trancadas dentro de suas casas no Japão, às vezes por mais de uma década seguida. Essas pessoas ganharam o nome de Hikikomori.
No Japão, Hikikomori é o termo usado para descrever os jovens que sofrem do transtorno que os impede de manter contato com o mundo exterior. O fenômeno teve origem nos anos 90, e atinge principalmente pessoas de classe média, na maioria homens, com idade média de 21 anos. A princípio, esse comportamento se assemelha ao de adolescentes rebeldes, mas para os psicólogos é causado por um profundo temor social.
Os sintomas variam muito entre os pacientes. Para alguns, surtos violentos se alternam com comportamentos infantis. Outros podem se tornar obsessivos, paranoicos ou depressivos. Tamaki Saito é um psicólogo que, no início dos anos 90, se surpreendeu ao notar o elevado número de pais com filhos que haviam deixado a escola e se escondido por meses. Quando Saito começou sua pesquisa, o isolamento social ainda era pouco conhecido e tratado como sintoma de outros problemas comportamentais, aponta a BBC. Desde então, acredita-se que o número de pessoas diagnosticadas com Hikikomori aumentou. Uma estimativa aponta que atualmente 200.000 sofrem com esse distúrbio, mas um estudo realizado pelo governo japonês apresentou um total muito mais elevado, de 700.000. Como os que sofrem dessa condição ficam isolados, Saito estima que o número deve ser maior. A idade média dos Hikikomori também parece ter aumentado nos últimos 10 anos, passando de 21 para 32 anos.
Os motivos que levam ao isolamento são muitos e variados, como notas baixas na escola ou faculdade, coração partido ou decepção com o trabalho. Com o passar do tempo, o isolamento, que era para ser algo temporário, evolui para um trauma sério. Muitas forças sociais também conspiram para manter os jovens trancados em casa. Uma dessas forças é chamada de sekentei, e remete à reputação na comunidade e pressão para impressionar os outros. Um segundo fator social é a amae, ou dependência, que caracteriza as relações familiares japoneses. Em troca de décadas de apoio a seus filhos, os pais esperam que seus descendentes mostrem respeito e cumpram seu papel de conseguir um bom emprego.
Para Hide, um jovem ouvido pela BBC, os problemas começaram quando ele largou a escola. "Eu passei a me culpar e meus pais também me culpavam por não ir à escola. A pressão começou a aumentar", conta. Depois de algum tempo, Hide não conseguia mais sair de sua casa e ter contato com outras pessoas, até mesmo seus pais. Para evitar vê-los, ele dormia durante o dia e passava a noite assistindo televisão. Tamaki Saito acredita que para sair dessa situação de isolamento é preciso organizar a relação do paciente com seus pais, e só depois passar às sessões de terapia e aos remédios. A terapia em grupo é um conceito relativamente novo na psicologia japonesa, mas os grupos de autoajuda se tornaram essenciais para a reinserção dos Hikikomori na sociedade. (Da redação)
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