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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Brasileira denuncia violência sexual em voo para Londres

Fabiana Maranhão*Do UOL, em São Paulo *Arquivo pessoal
Juliana Holanda, 33, denuncia violência sexual durante voo entre Etiópia e Inglaterra 

Durante 38 dias, a jornalista Juliana Holanda, 33, guardou para si as cenas de um dos piores momentos que passou na vida. Chegou a comentar o que aconteceu apenas com parentes e amigos próximos. Mas no começo desta semana, ela decidiu tornar pública a violência sexual que sofreu dentro de um avião da empresa Ethiopian Airlines. 

"Passei alguns dias até ter coragem de escrever esta história. Sei que é muita exposição, mas é um absurdo que as mulheres continuem sendo tratadas desta forma em pleno século 21. Até quando seremos silenciadas diante de abusos e de agressores?". É assim que ela começa um relato sincero e de revolta, publicado em seu perfil no Facebook, sobre o que ocorreu em 3 de julho deste ano. 

A pernambucana conta que viajava de Natal, onde mora, para Londres (Inglaterra), para participar de um curso de qualificação profissional. A violência aconteceu, segundo ela, no voo ET 700 que saiu de Addis Ababa (Etiópia) em direção à capital inglesa. 

"Eu estava viajando há mais de 24 horas e, apesar de cansada, não consegui dormir no voo. Fiquei apenas de olhos fechados, escutando música. Foi a minha sorte. Eu estava na poltrona da janela. Algumas horas após a decolagem, as luzes estavam apagadas. O homem que estava ao meu lado começou a se masturbar virado para a minha direção. Notei o movimento da cadeira e abri os olhos sem acreditar no que estava acontecendo. Nesse momento, ele estava tentando pegar em mim", ela afirma. 

A jornalista lembra que se levantou e foi pedir ajuda à tripulação. Ela teve de insistir para falar com o responsável pelo voo e mudar de poltrona. "Comecei a chorar de susto, raiva, vergonha, impotência, tudo misturado", diz. 

"[A responsável pelo voo] começou a me perguntar o que tinha acontecido, ali mesmo, na frente das pessoas. Eu expliquei. Ela perguntou se eu tinha testemunhas. Eu disse que as luzes estavam apagadas e as pessoas ao redor estavam dormindo. Ela disse que, sem testemunhas, ela não poderia fazer nada." 

"É revoltante que uma empresa não respeite os direitos da mulher e que diga que só agiria se tivesse ocorrido um estupro", critica Juliana, em conversa com a reportagem do UOL. 

Polícia 
A jornalista prestou queixa na polícia ao chegar a Londres. Ela soube que o suspeito foi identificado, detido e levado à delegacia, mas foi liberado após dizer, em depoimento, que passou o voo dormindo.

Juliana tentou entrar em contato por e-mail com a companhia aérea. "Não tive nenhuma resposta oficial da empresa. Apenas um funcionário ficou consternado com a situação e me escreveu pedindo desculpas", conta. 

No último dia 30, ela recebeu uma mensagem da empresa, que responsabilizou a passageira pelo que ocorreu. "Recebi um e-mail da empresa dizendo que a culpa era minha porque eu que não quis chamar a polícia nem levar o caso adiante." Juliana pretende acionar a Justiça contra a companhia. 

O escritório brasileiro da Ethiopian Airlines lamentou o ocorrido. "Infelizmente, não temos como controlar as atitudes dos passageiros a bordo. Porém, já acionamos a matriz em Addis, uma vez que o voo não envolveu o Brasil, a fim de entender exatamente o que aconteceu", diz a empresa em um comunicado. 
Violência sexual 

Apesar de não ter havido contato físico, a jornalista foi vítima de violência sexual, segundo Ana Rita Souza Prata, coordenadora auxiliar do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública de São Paulo. 

Se o caso tivesse ocorrido no espaço aéreo brasileiro, o agressor poderia responder por importunação ofensiva ao pudor, contravenção penal sujeita à multa ou prática de ato obsceno, crime que prevê pena de detenção de três meses a um ano. 

A defensora pública afirma que, se pouco pode ser feito aqui no país no âmbito criminal, ainda resta a esfera cível. "Ela pode acionar a Justiça contra a companhia já que a empresa não acolheu a demanda dela, além de ter sido exposta. Como ela comprou a passagem aqui, o domicílio dela é aqui, ela pode tomar as providências aqui", orienta Ana Rita.

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