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terça-feira, 24 de março de 2015

Belágua, cidade dilmista mais pobre do país já tem seus arrependidos

O Globo – Se pouco antes das eleições de outubro de 2014 seria tarefa quase impossível encontrar no município maranhense de Belágua (a cinco horas de São Luís-MA) alguém que não fosse eleitor de Dilma Rousseff (PT), hoje, com a presidente indo para o quarto mês do segundo mandato, é possível dizer que a situação não é mais a mesma.

Baixa de Dilma
Os moradores da cidade que deu a Dilma 93,93% dos votos — a maior votação proporcional alcançada pela presidente — e que mantêm plena confiança nela ainda perfazem maioria folgada. No entanto, sem esforço, aqui e ali, em breves conversas com os moradores, já se encontra gente que demonstra ter dúvida sobre em quem votaria hoje, e até arrependimento do voto dado, após os primeiros passos do segundo mandato da petista.

Uma delas é o agente comunitário de saúde Janilson Rodrigues de Sousa, de 38 anos (lado). Casado e pai de dois filhos, Janilson — que votou nos dois turnos em Dilma — viu as manifestações contra a presidente na TV e disse que quem foi às ruas tem razão.

— De certa forma, a Dilma surpreendeu todo mundo, inclusive eu. Ela enganou o povo ao não falar sobre as coisas que começou a fazer logo no começo do seu segundo mandato, como aumentar a conta de luz e a gasolina. Isso afetou não só a mim, mas a todo mundo — afirmou o agente de saúde.

Para Janilson, a presidente tem sido “muito omissa”, principalmente em relação ao acompanhamento dos programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, que para ele “ficam na mão dos prefeitos”.

— Aqui em Belágua, esses dois programas são controlados pelo prefeito Adalberto (Rodrigues), que é do PT, mesmo partido da Dilma. Eu posso te garantir que a maior parte dos beneficiados é de gente ligada ao prefeito, e muitas vezes tem uns que nem precisam do benefício e ganham. São poucos os que recebem o Bolsa Família ou as casas do Minha Casa sem ter ligação com o prefeito — disse Janilson.

O GLOBO procurou o prefeito de Belágua, Adalberto do Nascimento Rodrigues, o “Sargento Adalberto”, na sede da prefeitura, mas ele não foi encontrado para comentar o suposto privilégio a beneficiários de programas federais no município. Foi tentado, ainda, contato telefônico, mas o prefeito não atendeu as ligações.

O lavrador Augusto Saminez, 60 anos, também viu pela televisão as manifestações anti-Dilma. Augusto disse que se lembrou do ex-presidente Fernando Collor de Mello ao escutar e ver nos cartazes dos manifestantes a palavra “impeachment” (com a ameaça de impedimento, Collor renunciou em 1992).

— Isso quer dizer que o povo quer tirar ela como tirou o Collor — concluiu o lavrador.

Para ele, a presidente continua a merecer um voto de confiança, mas “se tudo continuar aumentando, principalmente as contas de luz”, Augusto garante que passa para o lado dos “arrependidos”:

— Recebo o Bolsa Família, como mais da metade do povo aqui de Belágua, mas apesar dos R$ 150 por mês do programa, não deixo a rocinha de mandioca, milho e feijão que tenho num povoado, de onde eu e alguns dos meus 10 filhos tiramos o sustento.

Morador do bairro Santa Clara, outro lavrador, Francisco das Chagas de Sousa, 49 anos, 7 filhos, igualmente eleitor de Dilma, disse que tomou “um susto” quando recebeu a última conta de luz:

— Na minha casa só tem geladeira, TV e um radinho de pilha, e veio uma conta de R$ 70, o dobro do que sempre pago.

Francisco disse nem saber bem o que é impeachment, nem se é a favor ou contra o afastamento da presidente, mas está certo de que ela “prometeu muita coisa e está fazendo tudo ao contrário”. Se as eleições fossem hoje, o lavrador afirmou ter dúvidas sobre o destino de seu voto.

— Acho que votaria em outra pessoa — afirmou, após pensar um pouco.

Vizinho de Francisco das Chagas, Raimundo Alves Pereira, de 54 anos, também “pensaria mais um pouco” para depositar na urna seu voto.

— No ano passado, eu votei na dona Dilma nos dois turnos, mas a gente ouve muito falar que ela está envolvida nessa corrupção aí, né — disse Raimundo, que tem uma pequena fábrica de farinha de mandioca em casa.

Mas apesar dos “arrependidos”, ou em dúvida, a legião dos correligionários de “dona Dilma” em Belágua ainda está longe de sofrer baixas significativas. A cozinheira Maria Assunção Sousa, 47 anos, casada, uma filha, votou em Dilma nos dois turnos das eleições passadas e garantiu que votaria nela “muitas vezes mais”, apesar de não ter acesso a nenhum dos programas sociais do governo.

— Antes da Dilma, o povo mais pobre aqui de Belágua vivia passando fome. Mal tinha uma farinha pra comer com água — disse Maria Assunção, enquanto “destrinchava” um frango, prato principal do almoço na pousada e restaurante “Belas Águas”, onde trabalha.

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