Por Marcos Niemeyer * mniemeyer50@hotmail.com / http://www.cacarejadavirtual.com.br
>> O brasileiro tem mesmo mil motivos para duvidar e questionar sobre as ações da polícia (tanto civil, quanto militar). O caso ocorrido na tarde desta terça-feira (9), em Belo Horizonte é estarrecedor e inaceitável num sistema democrático que se preze.
Policiais civis invadiram os estúdios da Rádio Itatiaia e prenderam na marra Armando Júnior Pereira da Cruz, investigado por participação em fraudes em licitações na Grande BH. Ele teria coagido testemunhas do processo, que também investiga lavagem de dinheiro, falsificação de documentos públicos e falsidade ideológica.
O jornalista Eduardo Costa entrevistava o suspeito ao vivo no estúdio da rádio quando dois policiais, de identidade não revelada, invadiram a emissora dizendo ter um mandado de prisão (mas não mostraram o documento) e interromperam o programa.
A dupla passou tranquilamente pela portaria da emissora, após exibir o crachá para o funcionário responsável pelo balcão como forma de intimidá-lo. No meio da confusão, os policiais empurraram uma jornalista presente ao estúdio. Revoltado diante da inacreditável cena, Eduardo Costa narrou a ação ao vivo pedindo providências às autoridades estaduais.
O comando da Polícia Civil mineira tentou minimizar a gravidade da situação alegando que a "Corregedoria da instituição já iniciou apuração capaz de esclarecer as circunstâncias em que dois policiais civis cumpriram um mandado de prisão nas dependências da Rádio Itatiaia."
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais repudiou a invasão. "O Sindicato se solidariza aos jornalistas atingidos pela violência policial e protesta contra a forma truculenta como a prisão foi feita, atingindo frontalmente a liberdade de imprensa. A ação caracterizou-se por irregularidades que demonstram descontrole existente na polícia mineira. Os policiais deveriam, de início, ter exibido o mandado de prisão, poderiam ter aguardado o fim da entrevista e efetuado a prisão na porta de entrada da emissora. É também inadmissível a insinuação feita pelos policiais de que o entrevistado preso fosse protegido da Itatiaia."
O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de Minas Gerais — Sintert-MG — também condenou o episódio: "A truculência e o abuso de autoridade dos policiais civis que invadiram a sede da Rádio Itatiaia caracterizam, de fato, verdadeiro atentado conta a liberdade de expressão", diz um trecho do comunicado emitido pela entidade.
Os jornalistas e radialistas mineiros estão se sentido humilhados, é como se estivessem no mato sem cachorro. Ainda mais, no caso da Itatiaia, diante da falta de autoridade da própria emissora para barrar o acesso de forasteiros e suspeitos em suas dependências colocando em risco a segurança e a integridade de todos os seus funcionários.
Ou será que a empresa não dispõe de um sistema de segurança adequado que impeça eventuais atos de tal natureza, já que no caso específico dos policiais civis invasores, eles sequer dispunham de mandado de prisão?
Atuei durante 35 anos na atividade radiofônica em diversas e importantes emissoras do país (inclusive, na própria Itatiaia) e jamais tomei conhecimento de algo idêntico — nem na época do indigesto regime militar.
Se fosse um atentado a bomba, tudo iria para os ares (literalmente!). A Itatiaia é uma rádio grande com instinto paroquial. Duvido se a policia teria peito para invadir alguma emissora radiofônica de peso no Rio ou São Paulo. Daria, certamente, com os burros n'água. Mas, na "Rádio de Minas", na "longínqua" e cada vez mais árida "Belzonte", foi inacreditavelmente possível.
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