Soltar rojão no meio de uma praça em manifestação pacífica e legítima é terrorismo. Esses rapazes, como o Raposo em pele de cordeiro, agiram como terroristas. Acham que são “ativistas” mas são homicidas em potencial. Poderiam ter matado uma criança, um colega, um idoso. Mataram um cinegrafista e estou de luto por você, Santiago, como colega e cidadã. Santiago Ilídio Andrade, choro por você e por sua família.
Soltar uma bomba caseira no meio de uma multidão, sem ser em legítima defesa – ou seja, sem ser perseguido por alguém armado – é um crime. Parte-se do pressuposto que aquela bomba caseira vá atingir alguém. Vi, em redes sociais, pessoas (amigos e amigas) preocupadas com o Raposo, com a mãe do Raposo, com a família do Raposo. Com pena e compaixão.
Sou jornalista, meus filhos trabalham com câmera e vídeo. Repórteres, que ali estão a trabalho para mostrar e registrar tudo, “armados” com sua ferramenta de trabalho, totalmente vulneráveis, sem enxergar quem os ataca, não podem ser vítimas de truculência, ignorância e crueldade. Venha de onde vier. Do Estado ou dos manifestantes. Muito se falou. Agora temos um cadáver.
Já escrevi em ÉPOCA várias vezes sobre o terrorismo de Estado, sobre os abusos inadmissíveis de forças de segurança fardadas ou à paisana. Acho um absurdo inominável agora, quando condeno esses rapazes por um ato terrorista, ouvir do meu interlocutor uma ressalva, uma frase que começa assim: “Mas...”. É o “mas a polícia também ....”.
Não tem “mas”, não tem “porém”. Quando um policial mata um inocente, também não tem “mas”, não tem “porém”. A PM achou que eram suspeitos? Perseguiu porque eram negros? Ou simplesmente jovens? Não tem “mas”. Se um policial matasse um manifestante, não poderíamos tentar justificar dizendo que os black blocs também são violentos. Agora não é hora de lembrar os abusos da polícia. A polícia não provocou a morte de Santiago.
A entrevista de ontem com a mulher do Santiago me emocionou muito. Havia nela, que trabalha em creches, uma dignidade imensa. Não era raiva, nem desejo de vingança. Era só mesmo a dor, imensa, profunda, de ver o companheiro, pai de seus filhos, partir para sempre em missão. Em guerra. Choro por você, Arlita Andrade, choro por sua filha com Santiago e pelos outros três filhos, os enteados que vocês criavam juntos.
Arlita pedia que a morte de Santiago não fosse em vão. Que essa garotada que brinca com a morte, como se tudo não passasse de uma algazarra, como se a máscara fosse uma fantasia de Carnaval, se dê conta de que o rolezão da violência é uma roleta-russa e vai contra o próprio espírito libertador de um protesto contra as injustiças e desigualdades. E que tomem tenência os adultos que passam a mão em cima dos rostinhos imberbes em grupos violentos, como se rojões fossem uma “atitude” da militância. Os gurus intelectuais de Raposo e seu parceiro também passaram o artefato adiante, nos bastidores e nas palavras de ordem. http://epoca.globo.com/
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