Os programas policiais que povoam a TV aberta são muito mais centrados nos seus apresentadores do que no noticiário. Daí aquela eterna disputa entre emissoras como Record, Band e SBT por âncoras como Marcelo Rezende e José Luiz Datena. Rezende, atualmente, está no comando do “Cidade alerta”. Anteontem, narrou um crime ocorrido na Zona Leste de São Paulo. Seu timbre de voz — entre a doçura extrema e a exaltação idem — lembrava muito o dos pastores das atrações religiosas.
Começou cândido, contando a história de José. “O homem vai sair para trabalhar, como todos os dias”, sussurrou, melífluo. Mas logo subiu o tom para vociferar: “Foi quando quatro criminosos pegaram José e o levaram para o andar de cima. Era sequestro!”.
O que Rezende fez em seguida lembra muito a narração de um jogo de futebol por um profissional de rádio — ele só não grita “gol”. Descreveu em minúcias tudo aquilo que o espectador já estava vendo: “O cara usa um capuz, tem um revólver na mão! Pelo tamanho é um 38, ele percebe a lente, atenção! Fez a dona de casa refém, olha a dona de casa refém!”. Para não deixar o ritmo cair, uma vez esgotado o repertório da descrição das imagens, o apresentador parte para o grito com alguém da produção: “Bota ‘exclusivo’ aí, minha filha, isso dá trabalho pra fazer!”. E seguiu entrevistando o comandante Hamilton, que está sur place produzindo as imagens. O piloto surpreende com uma avaliação bombástica: “A situação está muito tensa”. Jura, Pedro Bó?
Quando acaba essa, tem “Covardia: idosa espancada”; e um homem sequestrado “que gosta tanto do ‘Cidade alerta’ que vai dar entrevista”. Ele fala, mas de costas. Não importa, a estrela mesmo é Marcelo Rezende. Patricia Kogut – O Globo
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