O Brasil realizou duas cirurgias de mudança de sexo por dia no ano passado. Segundo o Ministério da Saúde, foram 633 casos entre janeiro e outubro do ano passado.
Em 2008, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o procedimento, houve 101 mudanças de sexo. Em 2011, esse número subiu para 706 - sete vezes mais.
Pelo menos 2.080 pacientes estão na fila do SUS no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Porto Alegre à espera da cirurgia. Além dessas três capitais, Goiânia também oferece a cirurgia, mas o ministério não informou o número de pessoas que aguardam na cidade. Os pacientes podem ficar até três anos na fila de espera.
O SUS oferece só a mudança do sexo masculino para o feminino. Nessa cirurgia, a genitália masculina é amputada e uma vagina, construída. "Elas (essas cirurgias) adequam o corpo à sensação de gênero", explica o psicólogo paulista André Mattos. Segundo ele, antes de realizar a operação, o paciente precisa ser diagnosticado como transexuais - pessoas que nasceram homens e se sentem mulheres ou que nasceram mulheres e se sentem homens.
O médico urologista Tiago Rosito, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, explica que a cirurgia é de alta complexidade. "Demora, em média, de quatro a cinco horas, e fazemos a reconstrução da uretra, que é um dos maiores desafios da medicina", ressalta. Segundo ele, em 70% dos casos, uma só operação é suficiente, mas, nos outros 30%, são necessários novos procedimentos para adequações.
A funcionária pública Giselle Sousa, 21, que mora em Belo Horizonte, desistiu de fazer a cirurgia no Brasil por causa da demora e vai tentar a operação na Tailândia. "Já me sinto mulher, mas ter o órgão masculino é como uma pendência", afirmou Giselle.
O psicólogo João Nery, 63, o primeiro transexual homem a ser operado, em 1977, diz que não é a cirurgia que dá identidade ao trans. "Ela é apenas uma readequação necessária para algumas pessoas", disse.
De forma gratuita, ainda não está disponível a mudança do sexo feminino para o masculino. No entanto, o Ministério da Saúde disse que já estuda essa possibilidade. Nesse caso, é feita a retirada de útero e ovários, reconstrução da mama e construção de um pênis.
Adequação não é feita em Minas
O Hospital Universitário São José, em Belo Horizonte, era o único que realizava cirurgias de mudança de sexo pelo SUS em Minas. Desde 2011, no entanto, ele encerrou o convênio com o Ministério da Saúde, segundo a pasta. O motivo não foi informado.
A falta de ambulatório é uma das principais reclamações das transexuais. "Temos dificuldade até mesmo para acompanhamento hormonal", diz Anyky Lima, coordenadora do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual. (NO)
Erro aflige 110 transexuais
Um erro na cirurgia pode causar enfermidades e problemas psicológicos para as transexuais. "Quando me olho, eu me pergunto o que eu sou por não ter nem o órgão genital masculino nem o feminino", diz a transexual Ágata Lima, 41.
Ela faz parte de um grupo de 110 transexuais que fizeram a cirurgia em uma clínica particular em Jundiaí, interior de São Paulo. Por causa dos erros, uma denúncia foi feita contra a clínica à Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) em Brasília.
Ágata já realizou cinco cirurgias de reconstrução vaginal e gastou cerca de R$ 90 mil, no entanto, ainda não obteve resultado satisfatório. "É muito sofrimento, estou cheia de cicatrizes", disse. Em média, as cirurgias particulares custam de R$ 30 a R$ 40 mil.
O urologista de Porto Alegre Tiago Rosito explica que muitas vezes é também o silicone injetável utilizado pelas pacientes que atrapalha o procedimento. "Eles atrapalham o processo cirúrgico e a cicatrização", diz. (NO). Do Portal Interior da Bahia
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