Tenho um conhecido que nas eleições passada resolveu fazer campanha eleitoral para alguns candidatos a vereador e prefeito com olho numa nomeação. Esse conhecido é do tipo fanfarrão, conversador; e eu imaginei que era mais uma das suas histórias falaciosa, dentre tantas outras que já o ouvir contar. Mas só que desta vez eu tive que dar a mão a palmatória, pois dias após as eleições e com a vitória dos seus candidatos, meu conhecido foi nomeado para um cargo na prefeitura da cidade. Sem muito estudo, o meu vizinho tem um cargo público bem remunerado. Bem, a nomeação é uma coisa natural, afinal ele trabalhou garimpando voto para os candidatos subiu e desceu ladeiras, tomou chuva e poeira, foi bem merecido o seu cargo, só que tem um pequeno detalhe: Ele queria ser nomeado, não queria trabalhar!!! Pois, bem, fiquei sabendo que após conversar muito com alguns amigos, o meu conhecido consegiu o que queria: está recebendo sem precisar aparecer no emprego. Todas as vezes que o encontro e brinco sobre o assunto, eu o ouço debochar: “poxa, Maria, eu sou um homem muito doente, não posso trabalhar...” Esse é um caso típico do mau uso do dinheiro público.
Devo lembrar aos leitores dessa coluna que desde a época do Absolutismo (é uma teoria política que defende que alguém (em geral, um monarca) deve ter o poder absoluto, isto é, independente de outro órgão), já existia a politica do apadrinhamento. E referindo-se ao nosso país, devemos nos lembrar de que nas cartas que o Caminha escreveu ao rei de Portugal falando das terras descobertas ele pede no final da dita carta favor especial ao rei de Portugal em nome de seu genro. E essa prática não terminou no descobrimento ela seguiu forte e atuante até os dias de hoje. Observamos que os políticos estão sempre nomeando os seus afilhados e correligionários para cargos que deveriam ser dados através de concursos públicos. Cargos que necessitam de técnicos são dados a leigos que terminam não fazendo nada para contribuir com o bem estar da comunidade. Nesse contexto existe o bobo da corte que tudo vê e nada faz: o povo.
Como o povo pode aceitar passivamente tudo isso se ele é sempre a maioria? O filósofo francês La Boétie, afirma “que é pelo nosso desejo de poder”. Ele fala que aceitamos assim passivamente pelo fato de que todos nós queremos e desejamos um dia nos tornarmos governo também. Ou mesmo fazer parte desse governo que o administra. Observamos que o apadrinhamento atingiu todos os cargos administrativos municipais, estaduais e federais. Com isso a incompetência tomou conta das secretarias e dos órgãos públicos, e entre a ética e a politica há um imenso conflito, um imenso abismo que os separam. Essa realidade deve ser repensada, pois sem a junção entre a ética e a política, não poderemos viver em um país solidário e humano, que lute pela igualdade entre as inúmeras camadas sociais hoje existentes.
Texto de Maria José Gonçalves (Tia Nen) para a Coluna Tabocas
Psicóloga formada pela Universidade Salesiana de Vitória do
Espirito Santo.
tianenreis@hotmail.com
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