Lu Aiko Otta e João Domingos - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O PT pretende utilizar a gestão de Fernando Haddad em São Paulo a partir de 1º de janeiro de 2013 para reciclar sua agenda programática. Cravada no coração do principal reduto do PSDB, a cidade promete ser, a partir do ano que vem, "laboratório" de testes de projetos do governo federal que poderão servir de bandeira na campanha eleitoral de 2014.
A promessa de Haddad de "derrubar os muros" que separam a população pobre da rica será complementada, segundo petistas, por um trabalho conjunto da Prefeitura com a presidente Dilma Rousseff com foco especial na nova classe média, um contingente de 40 milhões de consumidores surgido na última década.
Em conversas com seus conselheiros políticos, Dilma costuma repetir que essa parte da população brasileira continua sem acesso a planos de saúde e a escolas particulares. Acabará cobrando, portanto, a melhoria desses serviços do poder público.
"Nosso grande desafio é o da melhoria dos serviços públicos, porque esses 40 milhões que entraram na classe média recentemente ainda têm renda muito baixa", disse o deputado Paulo Teixeira (SP), um dos petistas que trabalhará na tentativa de transformar projetos da gestão Haddad num laboratório para o programa de governo do partido com vistas à campanha de 2014.
Trata-se da conclusão de uma adaptação de rumo que o PT vem conduzindo desde os últimos anos de mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Representante do movimento sindical e ligado diretamente aos movimentos sociais, Lula e o PT chegaram ao poder com propostas voltadas diretamente à inclusão social da população pobre.
Por isso, no seu primeiro mandato como presidente, a partir de 2003, os principais programas do governo tinham esse claro tom, como o Fome Zero, Primeiro Emprego e Bolsa Família.
O modelo ampliou a popularidade de Lula e garantiu a ascensão de uma nova classe média. E passou a exigir da presidente Dilma e do PT a adoção de novas bandeiras, voltadas justamente para essa nova classe média.
A opção por São Paulo foi provocada pela eleição de Haddad para a prefeitura, interrompendo um ciclo de poder ligado politicamente ao tucano José Serra.
Bilhete. Os experimentos abrangerão áreas como o transporte público. O bilhete único mensal, uma das principais bandeiras de Haddad na eleição, é uma grande aposta. A economia que o projeto - adotado em cidades dos EUA e em vários países da Europa - poderá proporcionar às famílias abrirá, na expectativa das equipes de Haddad e de Dilma, mais espaço para mais consumo.
Na área de saúde, segundo Teixeira, a ideia é manter as parcerias com os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês no modelo em que organizações sociais administram os equipamentos da área. O assunto é controverso no PT - parte dos integrantes da legenda é contra tais parcerias -, motivo pelo qual a campanha de Serra, adversário de Haddad no 2º turno, utilizou bastante o tema na reta final da disputa de 28 de outubro. Haddad foi convencido a manter as parcerias, principalmente aquelas com instituições de renome.
Os convênios com o governo federal serão explorados. O ministro da Saúde é Alexandre Padilha, um dos pré-candidatos do PT ao governo do Estado em 2014.
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