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terça-feira, 26 de agosto de 2014

As armadilhas da renda fixa

GUSTAVO CERBASI
O brasileiro voltou a ter perfil mais conservador nos investimentos. Com o mercado de imóveis saturado, Bolsa de Valores estagnada, falta de estímulo a novos negócios e economia parada, seria de esperar. Investir em renda fixa não é uma estratégia, mas sim uma defesa.

Mas o que deveria ser um porto seguro contra perdas é, na verdade, uma ilusão. Com a inflação oficial manipulada e a taxa Selic se ajustando a passos de tartaruga diante de solavancos na economia, os ganhos na renda fixa não conseguem superar os efeitos inflacionários.

Quem investe na poupança foge dos impostos, mas amarga ganhos inferiores à inflação. Quem busca investimentos mais rentáveis, como CDBs, Tesouro Direto e fundos, entrega todo o lucro para o governo, na forma de impostos, ou para os bancos, na forma de taxas. Os privilegiados que reúnem recursos para investir nas elitizadas letras financeiras, letras de crédito e debêntures conseguem vencer a inflação, mas à custa de não ter acesso aos recursos por vários meses.

Na prática, a renda fixa no Brasil se divide em três grupos de produtos: 1) os mais populares e acessíveis que perdem da inflação, 2) os mais sofisticados que ganham da inflação, mas o ganho não fica com o investidor e 3) os que oferecem um ganho real para quem abre mão da liquidez e se expõe ao risco de não poder sacar recursos numa emergência.

O investidor iniciante ainda sofre com o efeito manada. Ele pesquisa as alternativas, encontra um produto com desempenho melhor do que outros e basta investir pesado nele para que se torne o pior produto do banco. Isso ocorre porque, além das armadilhas típicas dos produtos, existe ainda o humor do mercado. Em cada um dos três grupos, há momentos bons e ruins para a renda fixa prefixada e para a pós-fixada. Quando uma vai bem, a outra vai mal. Quando o momento é bom para um título, todos migram para ele, e o desempenho cai. Quanto maior a procura, mais se dilui qualquer lucro potencial.

A renda fixa não tem o propósito de multiplicar riquezas. Ela se propõe a apenas manter riquezas, desde que bem escolhida. Para ter algum ganho, é preciso entender o sobe e desce dos mercados, investir quando a maioria acredita que o papel está ruim e deixar de investir quando todos perceberam a oportunidade. Na prática, só ganha com a renda fixa os investidores com conhecimento e capacidade de operar também em mercados de renda variável.

Renda fixa como investimento não é negócio. Ela é indicada como reserva financeira para ser usada para a compra de algo que valorizará. Para enriquecer, o caminho é estudar negócios e investimentos verdadeiros. Investir já foi mais fácil no Brasil. http://epoca.globo.com

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