Aluno de escola pública de Fortaleza acerta 95% do Enem
Uma história de superação e de esforço pessoal de um garoto comprometido a mudar o próprio destino.
É dessa forma que pode ser resumida a trajetória do estudante cearense João Vitor Claudiano dos Santos, de 16 anos. Aluno da Escola Estadual Governador Adauto Bezerra, de Fortaleza (CE), João acertou 172 das 180 questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o equivalente a 95% do total da prova.
Como comparativo, o menino ultrapassou os 164 acertos da estudante mineira Mariana Drummond, que conquistou o primeiro lugar no Enem em 2013.
Filho da diarista Ana Maria dos Santos, que não sabe ler ou escrever, João e os irmãos sempre valorizaram a oportunidade de estudar: “Ele dormia, em média, quatro horas por dia, passava os finais de semana estudando e quase não assistia televisão. Eu não tive a oportunidade que eles tiveram, mas tentei passar o valor da educação para os meus filhos”, destacou a mãe do estudante em entrevista ao Brasilidade, o Tumblr do Palácio do Planalto.
De acordo com João Vitor, um dos fatores que mais o motivou a estudar foi a ampliação do acesso às universidades públicas no Brasil nos últimos anos por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e da popularização do Enem. “Eu e meu irmão, o Gerson, a gente estuda muito. Então, desde 2010, a gente viu, com o sucesso do Enem e do Sisu, que as universidades públicas tinham aberto suas portas. Eu e o Gerson enxergamos nessa oportunidade a chance de conseguirmos vencer na vida e de mudar a realidade da nossa família, que é toda do interior e que não tem ninguém que tenha conseguido chegar à universidade”, afirmou.
Para alcançar esse objetivo, João Vitor se valeu de sua paixão pela leitura para superar uma das maiores dificuldades atribuídas ao Enem: a extensão dos textos e o tamanho da prova.
“O que tem de cansativo no Enem são os textos grandes. Então, minha estratégia foi me adaptar à leitura, ler livros grandes, alguns com linguagem rebuscada”, conta o estudante que começou lendo integralmente os livros didáticos distribuídos gratuitamente pelas escolas públicas. Ele lembra que, a partir do oitavo ano, passou a se interessar também pelos livros clássicos por influências do avô e da mãe:
“Quando eu tinha uns 12 anos, meu avô me deu o livro ‘Caçador de Pipas’ que é um romance extraordinário, daí eu comecei a ver que a leitura não era só fórmula, não era só química, não era só matemática. A minha mãe – que não sabe ler – não deixou que eu esquecesse os clássicos. Quando eu comecei a ler, eu não parei mais. Até hoje eu leio em torno de 80, 90 livros por ano,” contabiliza.
Dificuldades
No entanto, o reconhecimento recente conquistado por seu resultado no Enem não deixa que João Vitor se esqueça das dificuldades que enfrentou durante sua trajetória escolar. Para o estudante, alcançar bons resultados na escola foi a estratégia que adotou para enfrentar o bullying que sempre sofreu em razão do cabelo, da altura e da magreza.
Outro episódio que o marcou profundamente foi o fato de não poder ir ao colégio porque seu único tênis havia furado: “Como eu sempre andei bastante para chegar à escola, meu tênis acabou furando. Foi quando eu resolvi não ir ao colégio. As pessoas já me discriminavam antes disso, se eu fosse de chinelo elas iam se distanciar ainda mais, me ‘olhar torto’. Isso me machucava e ainda machuca muito”, afirma.
Ao perceber a situação do adolescente, a mãe de João acabou conseguindo comprar um outro calçado para o filho. Essa foi a única vez que o garoto faltou à escola na vida.