Por Guilherme Botacini | Folhapress
Foto: Reprodução / Necochea
A coalizão de oposição na Venezuela decidiu manter o ex-embaixador Edmundo González Urrutia como seu candidato unitário para as eleições previstas para o dia 28 de julho.
Ele havia sido inscrito de forma provisória nas últimas horas antes do fim do prazo para garantir a presença da oposição na cédula, em meio à inabilitação de María Corina Machado, principal nome do grupo político que se opõe ao ditador Nicolás Maduro, e à impossibilidade de inscrição no sistema eleitoral de Corina Yoris, então escolhida para substituir María Corina.
"A Plataforma Unitária Democrática, por unanimidade, aprova a candidatura de Edmundo González Urrutia como o candidato de unidade apoiado por todos os atores da PUD", disse Omar Barboza ex-presidente da Assembleia Nacional.
"Depois de um debate respeitoso, em que participaram líderes como María Corina Machado, Manuel Rosales e todos nós, chegamos a uma conclusão que é uma decisão histórica para a democracia venezuelana. Escolhemos o próximo presidente da república, que será eleito em 28 de julho", afirmou Barboza em pronunciamento.
González Urrutia foi embaixador da Venezuela na Argélia e também assumiu o cargo máximo de uma representação diplomática de Caracas na Argentina, no início do período de Hugo Chávez no poder, no começo dos anos 2000.
María Corina, que venceu as primárias da oposição com folga no ano passado, ainda não havia falado publicamente sobre a manutenção de González Urrutia na cédula como nome unitário até a publicação deste texto. Um pronunciamento era esperado em seguida ao anúncio.
O Vente, partido de María Corina, publicou no X mensagem em que confirmava a escolha da coalizão. "Celebramos essa decisão e agradecemos a todos os venezuelanos pela confiança", diz a curta mensagem, que também fala sobre o pronunciamento esperado de María Corina.
"Total apoio a nosso amigo Edmundo González Urrutia. Tem um desafio gigantesco pela frente. No dia 28 de julho, milhões de venezuelanos votarão pela mudança na liderança da nossa Venezuela e abrirão portas para o futuro da democracia", publicou o opositor Henrique Capriles em seu perfil no X.
Inabilitada por 15 anos a ocupar cargos públicos, María Corina havia indicado a acadêmica Corina Yoris para substituí-la como candidata de unidade da oposição a Maduro.
Em março, Yoris, 80, sem experiência na política institucional, viu sua primeira tentativa frustrada ao não conseguir inscrever seu nome na plataforma eleitoral. "Fizemos todas as tentativas de inserir os dados e o sistema está completamente fechado para poder entrar digitalmente", disse ela na ocasião.
Yoris também deu seu apoio a González Urrutia. "Temos um candidato e com o apoio unânime da PUD e do MCM, e claro, com meu apoio também. União antes tudo", publicou em seu perfil no X.
Durante o processo de inscrição, foram registrados 13 candidatos, incluindo Maduro, que aspira a um terceiro mandato de seis anos. Embora nove dos candidatos se definam como antichavistas, a maior parte é rotulada pela oposição tradicional como "colaboradores" do regime.
Diante do bloqueio a Yoris, a PUD registrou González Urrutia como o nome do grupo, mas inscrito pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), absorvida pela PUD. Segundo a aliança, no entanto, o nome de Urrutia foi inscrito de forma provisória e buscava apenas garantir representação da força no pleito até que conseguisse "inscrever sua candidata por direito".
Desde agosto de 2021, regime e oposição na Venezuela mantêm um processo de negociação com mediação da Noruega para a realização de eleições. Nos diálogos, as partes estabeleceram, por exemplo, que as eleições devem ser realizadas com lisura e com a presença de observadores internacionais.
Nos últimos meses, no entanto, a ditadura tem aprofundado a perseguição à oposição eleitoralmente robusta. Além da confirmação da inabilitação de María Corina pela Suprema Corte alinhada ao regime, a Promotoria também aliada de Maduro mandou prender adversários, muitos deles aliados próximos de María Corina.
O cerco aos adversários tem sido criticado até por aliados de Maduro, caso do colombiano Gustavo Petro, que se reuniu com opositores, e do presidente braileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O governo Lula vinha blindando Maduro de críticas, mas mudou de tom em meio aos bloqueios à oposição. No fim de março, o Itamaraty afirmou em nota que acompanhava "com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral" em Caracas.
O regime chamou o comunicado de "cinzenta e intervencionista" e que o texto parecia ter sido "ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos".
Washington, inclusive, grande alvo retórico do chavismo, decidiu em meio à perseguição à oposição venezuelana não renovar a suspensão das sanções ao setor de petróleo e gás do país sul-americano nesta quinta (18), dia em que terminou o prazo da medida, e voltou a aplicar as restrições à indústria de Caracas.
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