As mulheres são as mais afetadas por este distúrbio em função do corpo perfeito.
Por Dra. Andrea Ladislau / Psicanalista
Conhece alguém que tem o espelho como melhor amigo e fica a todo momento, dando aquela conferida na imagem pessoal? Confere peso, altura, cabelo, medidas, tom de pele, vestuário, tudo… só que várias vezes ao dia? Não pode passar perto de um espelho que perde a concentração em outras atividades e a visualização da imagem passa a ser a ação mais importante do seu cotidiano? Chamamos essa verificação constante de “Body Checking” (verificação corporal).
Um termo em inglês que especifica a eterna necessidade de avaliação da imagem pessoal em alta frequência. A classificação desta atitude em um ato normal ou não, está vinculada à intensidade com que ela acontece. Se ocorrem de forma excessiva, chegando ao ponto de gerar algum tipo de desconforto ou angústia, certamente, teremos a configuração de um distúrbio psíquico. Normalmente, atinge pessoas com autoestima baixa, portadores de distúrbios alimentares como a bulimia ou a anorexia e também pessoas extremamente preocupadas com a aparência e que se afetam profundamente com os julgamentos alheios, levando-as a uma eterna obsessão com a aparência e o peso.
O desequilíbrio está no excesso e na compulsão do hábito de se olhar no espelho. O que pode apontar sinais claros de insatisfação corporal ou mesmo de desequilíbrio emocional. As mulheres são as mais afetadas por este distúrbio em função da insana cobrança gerada pela ditadura do corpo perfeito propagada pelas redes sociais e pela sociedade, que vendem a ideia fixa de que pessoas felizes são aquelas que estão dentro das exigências estéticas do suposto padrão de beleza das celebridades e influenciadores.
Além disso, existe uma distorção de definição da imagem saudável de um indivíduo, na qual cria-se a ilusão de que, só é saudável quem cuida de forma excessiva do corpo e da aparência, enquanto aquele que não perde horas em frente ao espelho, que não se cuida (esteticamente falando), revela uma personalidade problemática que necessita de cuidados pessoais e que, portanto, deve ser melhor analisada, pois não representa uma aparência salutar.
Os sintomas que identificados em quem sofre de Body Checking, são:verificação constante do tamanho da barriga, de pernas, braços e diversas partes do corpo em frente ao espelho;
isolamento social;
pensamentos obsessivos com a alimentação e a aparência;
fotos em frente ao espelho a todo momento;
procrastinação de tarefas e rotinas para dedicar-se ás verificações do corpo;
sentimentos frequentes de medo e ansiedade;
insatisfação e frustração; repulsa por distorções de peso e aparência;
comparação constante do corpo ao de celebridades, amigos e pessoas próximas;
várias fotos na mesma posição com roupas diferentes para facilitar a observação das mudanças promovidas no corpo e na aparência; irritabilidade quando a imagem visualizada não está dentro do idealizado.
Enfim, a verificação corporal excessiva é um pensamento ou um comportamento obsessivo centrado no corpo que motiva a dor, a angústia, a frustração e a distorção da imagem real do indivíduo.
Porém, enquanto a autoestima não for trabalhada e o amor próprio se fortalecer na mente ao ponto de modificar comportamento e pensamento, o espelho continuará sendo um forte aliado da neurose. Portanto, é primordial buscar a psicoterapia, já que esse excesso deve ser analisado e investigado para entender onde está ancorado o gatilho que desencadeia o Body Checking.
O respeito aos próprios limites, o reconhecimento às qualidades e a potencialização do autocuidado amparado pelo equilíbrio mental e comportamental, são detalhes importantes no processo de cura e extinção da neurose instalada pelo desejo de perfeição frente ao espelho.
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