O Brasil vive mais um desafio na campanha vacinal e surge a dúvida se é mais urgente proteger melhor os mais vulneráveis ou intensificar a vacinação nas crianças e adolescentes
A semana foi agitada quando o assunto é a “terceira dose” da vacina no mundo. Nos Estados Unidos a aplicação de mais uma dose do imunizante está marcada para 20 de setembro e, no Brasil, o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta quarta-feira (18) que o Brasil deve começar a estratégia pelos idosos e profissionais de saúde. Ocorre que muitos brasileiros ainda não foram vacinados sequer com a primeira dose. Mesmo com o aumento considerável no ritmo de vacinação nos últimos dias, diversas cidades do país estão vacinando o público entre 20 e 30 anos e a grande maioria ainda não começou a vacinação de adolescentes e crianças. O que passa a ser mais urgente: Vacinar o público mais jovem ou dar a dose de reforço para o público mais vulnerável? Para o médico pneumologista especialista em Terapia Intensiva pela USP e coordenador de pós-graduação da Sanar/UniAmérica, Felipe Marques, é preciso pensar numa estratégia se o cenário de distribuição de vacinas seguir com escassez. “Em um levantamento feito no município do Rio de Janeiro em novembro, a letalidade por covid-19 em menores de 9 anos era de aproximadamente 1%, podendo chegar a próximo de 50% em indivíduos entre 80 e 90 anos. Logo, em um país com recursos limitados e dificuldade de acesso ao imunizante, a estratégia de vacinar as populações vulneráveis pode ser mais eficiente que a vacinação de populações com baixo risco de complicação”, explica.
A discussão ocorre no contexto de escassez de insumos, já que numa situação de amplo acesso às vacinas, certamente a vacinação de todos os públicos seria a estratégia mais acertada, usando os imunizantes comprovadamente seguros em pacientes mais jovens. Sobre a necessidade da terceira dose ser interpretada como uma falha nas vacinas, Marques é bem claro. “O risco de evolução para formas graves da doença, bem como internação ou óbito são menores naqueles que tomaram vacina, qualquer que seja o imunizante. Por esse ângulo, definitivamente esses indivíduos estão mais seguros. A grande discussão girará em torno do potencial ganho de eficácia contra novas variantes ao se utilizar uma terceira dose ou fazer uma alternância de imunizantes”, conclui.
Felipe Marques da Costa
Graduado pela Universidade Federal do Ceará, residência em Pneumologia pelo HC-FMUSP (2016), preceptor do serviço de pneumologia HC-FMUSP (2017), especialista em Terapia Intensiva HC-FMUSP (2018) e Doença Pulmonar Intersticial, Líder da equipe COPAN de pneumologia no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Coordenador da Pós-Graduação em Medicina.
Intercambialidade
Tem sido comum a discussão no meio científico e até entre a população sobre a “mistura de doses”. Recentemente uma situação em Guarulhos chamou a atenção da sociedade, quando uma médica veterinária divulgou nas redes sociais que teria tomado uma terceira dose na cidade, mesclando dois tipos diferentes de imunizantes. O caso está sendo investigado, já que no Brasil ninguém está autorizado ainda a tomar uma terceira dose. O pneumologista Felipe Marques explica que a intercambialidade, quando se faz o uso de diferentes vacinas num mesmo indivíduo, aconteceu inicialmente por motivos de contingenciamento ou efeitos adversos em algumas populações, como visto na Alemanha. No entanto, um estudo britânico aponta para essa direção ao identificar que pacientes que tomaram a primeira dose da vacina AstraZeneca e a segunda dose da Pfizer tiveram um aumento na produção de anticorpos quando comparado a população que recebeu 2 doses da AstraZeneca. “É apenas o início da discussão sobre combinação de vacinas”, finaliza o especialista e professor da Sanar.
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