por Fernando Duarte***Foto: Bahia Notícias
A população de Salvador vive entre o “deboche” e o “escárnio” no enfrentamento ao novo coronavírus. A afirmação foi do prefeito ACM Neto, mas poderia ser de qualquer soteropolitano que mantém uma postura cautelosa frente à pandemia que assola o mundo. É difícil lidar com a dura realidade do distanciamento social. É mais difícil ainda viver com o receio de que haja uma segunda onda de contaminação. Mas precisamos encarar esse assunto.
As praias são o problema mais visível e emblemático. Entretanto é inegável que jogamos às favas as restrições que vivemos nos meses iniciais da quarentena. Ninguém suporta mais sobreviver distante de quem gosta, afinal o afeto, o toque, o abraço é parte da rotina dos baianos. O que torna ainda mais complexo manter o regramento recomendado pelas autoridades de saúde. Ainda assim, ele é necessário.
Não é de agora que ACM Neto cita a possibilidade de uma segunda onda do coronavírus. Na Bahia, coube ao secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, fazer o alerta para o ciclo natural de uma pandemia. A diferença entre os momentos iniciais da Covid-19 e agora é que há mais informações disponíveis e há melhor preparo do sistema de saúde para dar suporte aos eventuais contaminados. O que não impede superlotações em unidades e um eventual colapso desse sistema. É salutar ressaltar que ninguém sobreviveria por mais tempo de quarentena. E aí está havendo o maior “pecado”.
Se na implantação das medidas restritivas houve acerto por parte das autoridades públicas e a população, esse processo de “saída” tem sido mais traumático. Não por falta de articulação entre governo da Bahia e prefeitura de Salvador. Para a nossa sorte, ainda se mantém uma sintonia entre os entes - e olha que temos uma campanha eleitoral acontecendo. O desafio tem sido convencer as pessoas de que a flexibilização tem que ser gradual, para que não seja preciso retornar à estaca zero do fechamento das atividades econômicas.
Da forma como parte da população tem se comportado, é como se, da noite para o dia, um passe de mágica tivesse nos tornado imunes ao coronavírus. Estamos muito distantes disso. Os casos de reinfecção e o aumento de registros em países que já passaram por uma crise no primeiro semestre são exemplos claros de que não existe um controle 100% eficaz da doença. A Covid-19 pode não ser tão mortal como achamos no princípio. Mas qualquer movimento abrupto para pôr fim à quarentena de maneira forçada - ou à brasileira - é um erro grosseiro. E, em caso de doença, não cabe deboche ou escárnio.
Este texto integra o comentário desta quarta-feira (14) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
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